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- Buscador da Verdade
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Maya – A grande ilusão mantida pela dança de Shiva
MAYA – A GRANDE ILUSÃO MANTIDA PELA DANÇA DE SHIVA
Conhecimento milenar moderníssimo
A ciência oficial, neste limiar da transição para a Era de Aquário, está se aproximando rapidamente de ponto onde um dia se encontrará com as velhas verdades ditas espirituais – e aí, não teremos mais “ciência e religião”, ou duas formas de pensar o Universo – tudo será o Conhecimento Único, tal como foi no passado, nos velhos templos iniciáticos que eram Escolas de Sabedoria.
Nesse sentido, as velhas verdades conservadas pelo hinduísmo são um compêndio de conhecimento cósmico. No Bhagavad Gîta, por exemplo, texto sagrado do hinduísmo que é chamado de “O Evangelho de Krishna”, encontramos essas noções com uma clareza e profundidade inigualáveis.
O mais curioso é que as teorias da Física mais avançada de hoje estão convergindo de forma inusitada para essas mesmas noções.
Um dos postulados básicos da filosofia do hinduismo é que aquilo que chamamos de matéria, ou mundo material, é uma ilusão dos sentidos. Aquilo que percebemos como mundo real, concreto e sólido, resulta de uma percepção de nossa consciência, mediada pelos sentidos físicos, mas essa visão não corresponde à essência da Realidade tal-como-é.
Dessa forma, o mundo material é Maya – a Grande Ilusão. O seu persistente domínio da consciência humana deve ser superado pelo verdadeiro conhecimento da Realidade – Jnana. A isso se chama “retirar o véu de Maya” (que, a propósito, é o mesmo que os antigos egípcios simbolizavam por “retirar o véu de Ísis”), e cabe aos sábios realizá-lo:
Aquilo que à gente do mundo sensorial parece ser real e verdadeiro, para o sábio é ilusão: e aquilo que a maior parte dos homens julga ser irreal e não existente, o sábio conhece como o único que é Real e existente. (Bhagavad Gita – II-69)
O hinduismo (tal como o budismo, o taoismo, e toda a tradição esotérica oriental e ocidental) declara que o chamado “mundo sensível” é irreal, não obstante as sólidas aparências com que engana nossa consciência. Não é onde devemos procurar a Realidade, o Ser:
Aquilo que é irreal, ilusório, não tem em si o Ser Real; não existe na realidade, e sim só na ilusão (Bhagavad Gita II-16)
O que vemos são as sombras projetadas no fundo da caverna, com disse Platão. São muito fortes as cadeias da ilusão, da consciência identificada com os sentidos, e só pela meditação no Ser Real, Brahma, pode-se superar as aparências, a visão do mundo material que éAjnana – a ignorância da Verdade:
O mundo dos homens (acha-se) sob o domínio da ilusão (…) Esta ilusão é muito forte, e tão denso é o seu véu que é difícil aos olhos humanos penetrá-lo. Só aqueles que a Mim se dirigem e se deixam iluminar pela chama que está detrás da fumaça, vencem a ilusão e chegam até Mim. (Bhagavad Gita VII-13-14)
Por isso, no Bhagavad Gita, Krishna, o Verbo Divino, adverte Arjuna, o discípulo: “Não te entregues às ilusões do mundo finito”. Por isso a velha invocação da alma, nos Upanishads: “Do irreal conduze-me ao Real; das trevas para a Luz; da morte à Imortalidade”.
O mais curioso dessa clara doutrina sobre o mundo material é a afirmação milenar sobre um movimento incessante da própria matéria – aquilo que é poeticamente figurado como adança de Shiva. Um dos três aspectos da Divindade (Brama, o Criador; Shiva, o Conservador;Vishnu, o Destruidor), Shiva é a atividade divina que mantém, com seu movimento incessante, a forma do universo. Dessa incessante dança cósmica resulta o universo material:
A matéria, estando em contínuo movimento, produz variadíssimas e mutáveis formas … (Bhagavad Gita XIII-21)
Estou em constante ação e movimento, agindo sempre incessantemente (…) se eu deixasse de ser ativo, estes Universos cairiam em ruina (Bhagavad Gita III-22-23)
Essa visão do universo, ensinado desde os textos védicos, tem sido vivenciada como experiência consciencial por algumas pessoas. Um dos mais famosos foi Fritjof Capra, o eminente físico contemporâneo, que assim a descreve no prefácio de seu famoso O Tao da Física:
Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo de minha própria respiração. Nesse momento, subitamente, apercebi-me intensamento do ambiente que me carcava; este se me afigurava como se participasse de uma gigantesca dança cósmica. Como físico, eu sabia que a areia, as rochas, a água e o ar ao meu redor eram feitos de moléculas e átomos em vibração e que tais moléculas e átomos, por seu turno, consistiam em partículas que interagiam entre si através da criação e da destruição de outras partículas. Sabia, igualmente, que a atmosfera da Terra era permanentemente bombardeada por chuvas de “raios cósmicos”, partículas de alta energia e que sofriam múltiplas colisões à medida que penetravam na atmosfera. Tudo isso me era famliar em razão de minha pesquisa em Física de alta energia; até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas através de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores adquiriam vida. Assim, “vi” cascatas de energia cósmica, provenientes do espaço exterior, cascatas nas quais, em pulsações rítmicas, partículas eram criadas e destruídas. Vi os átomos do elementos – bem como aqueles pertencentes a meu próprio corpo – participarem desta dança cósmica de energia. Senti o seu ritmo e “ouvi” o seu som. Nesse momento compreendí que se tratava da Dança de Shiva… (Capra, 1993, p.11)
O mais interessante nessa concepção do movimento incessante da intimidade da matéria, é a sua espantosa “modernidade”. A ciência ocidental levou até meados do século vinte para chegar à mesma concepção, expressa em linguagem menos poética, mas coincidente de forma absoluta. Para isso, teve que atravessar séculos de uma visão mecanicista do mundo, cujos alicerces Descartes estabeleceu, e a mecânica newtoniana construiu. Esse modelo do mundo foi a sólida estrutura da Física clássica, sobre a qual se apoiou toda a ciência durante quase três séculos. Sua base era a concepção de um espaço absoluto, sempre em repouso e imutável, e um tempo também absoluto, fluindo uniformemente e sem vínculo com o mundo material. Quanto à matéria, era composta de partículas pequenas, sólidas e indestrutíveis, a partir das quais toda a matéria se elaborava. Sobre elas agia a força da gravidade. O universo era uma grande máquina previsível, um grande sistema mecânico.
Ao início do século XX, duas grandes teorias – a da Relatividade e da Física atômica – esfacelaram a visão newtoniana do mundo, com sua possibilidade de uma descrição objetiva da natureza.
A Física atômica nos deu um modelo de constituição íntima da matéria que demonstra a profunda irrealidade da aparência “sólida” dos corpos, que é nossa visão imediata. Os átomos, em realidade, são imensos espaços vazios, com núcleos que possuem quantidades infinitesimais de matéria, em torno dos quais orbitam elétrons que nada têm de solidez, mas sim de carga elétrica. As proporções interatômicas são dramáticas. Conforme ilustra Capra (op.cit.) se ampliássemos uma laranja até o tamanho da Terra, seus átomos teriam o tamanho de cerejas – mas seus núcleos (onde se concentram as partículas “materiais”) seriam invisíveis. Só ampliando o átomo até o tamanho da Catedral de São Pedro, o núcleo seria visível – do tamanho de um grão de sal. “Um grão de sal no centro da abóbada da Catedral de São Pedro e poeira girando em torno dele – eis a imagem de um átomo”.
Só com esse modelo do átomo, “desaparecia” o universo familiar. Seu aspecto sólido e compacto é, na verdade, ilusão – Maya – sustentada pelo movimento incessante. Se eliminássemos todos os espaços vazios de um corpo humano, teríamos uma poeirinha na ponta de um alfinete.
Ou seja: a poeira nuclear é tecida, pela incessante dança de Shiva, numa teia ilusória que dá a impressão irreal da continuidade sólida da matéria. Se, por uma fração de segundo, o movimento interno da matéria atômica cessasse, todo o universo visível se eclipsaria como num passe de mágica – como poeira soprada da face do Absoluto, poderia dizer a Vedanta.
Como é que, há 4.500 anos, os autores dos Vedas já conheciam essa realidade?
A luz da sabedoria está obscurecida pela fumaça da ignorância, e o homem ilude-se com isso e pensa que a fumaça é a chama, não podendo enxergar esta atrás daquela. O mundo dos homens está sob o domínio da ilusão; essa ilusão e muito forte, e tão denso é o seu véu, que é difícil aos olhos humanos penetrá-la. Só aqueles que a Mim se dirigem e deixam iluminar pela chama que está detrás da fumaça, vencem a ilusão e chegam até Mim. (Bhagavad Gita VII-14).
Mariléa de Castro
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