Diagrama de Meditação de HPB e o Processo de Transformação Espiritual
Roger Price , Theosophist, p. 300-309, maio 2003
Uma das gemas deixadas para nós por H. P. Blavatsky (HPB) é seu Diagrama de Meditação, cuja cópia foi registrada por E. T. Sturdy, um dos membros de seu Grupo Interno. Este artigo vai tratar de alguns princípios esotéricos nos quais o diagrama baseia seu valor no processo de transformação espiritual. Quando se considera sobre o que é o processo de transformação, talvez se ganhe uma visão geral de uma das passagens da “Carta do Maha Chohan” do livro Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett:
"Todos nós temos que nos livrar de nosso próprio Ego, nosso eu aparente e ilusório para reconhecer nosso verdadeiro Eu numa vida divina transcendental. Se não formos egoístas, devemos lutar para levar outras pessoas a verem a verdade e reconhecerem a realidade do Eu transcendental, o Buddha, o Cristo ou Deus de todos os pregadores."
A citação acima esclarece que nosso Eu real não é a personalidade que, do ponto de vista espiritual, é apenas nosso eu aparente e que nosso Eu real está na vida divina transcendental. A verdadeira transformação spiritual acontece quando somos capazes de “nos livrarmos” de percepções e sentimentos que são o ego pessoal e “reconhecer nosso real e verdadeiro Eu (e o de cada ser) na vida divina transcendental”. É um processo progressivo de distinguir entre o que é real e permanente e o que é ilusório e transitório e exige uma desidentificação com o que é ilusório e uma reidentificação com o que é real. Esse processo exige que as percepções e sentimentos mudem para refletir a Unidade da Vida e é facilitado quando isso acontece. Assim, a citação também reforça a importância de superar o egoísmo (que surge do senso de separatividade) ajudando outros a perceberem esta verdade universal que se encontra em todas as religiões. Isso implica que a verdadeira transformação espiritual exige não apenas perspectivas e valores universais verdadeiros que nascem do senso de Unidade de Toda Vida, mas também, do compromisso de viver ou trabalhar para o benefício de todos. A prática do Diagrama direciona a consciência para o real e fornece insigts sobre o que é ilusório, ajudando assim o processo de transformação espiritual.
Qualquer método de transformação spiritual deve ser de uso prático e capaz de facilitar mudanças, não apenas em perspectivas e valores, mas principalmente, na consciência. Isto exige que o método traga mudanças que estão alinhadas com a verdade universal, que é a realidade, e liberte a consciência dos condicionamentos e ilusões. Tendo isso em mente, duas preocupações sobre o Diagrama surgem. Primeiro, pode-se pensar que o Diagrama é muito abstrato ou metafísico e, assim, sem uso prático. O que o processo de tentar “Conceber a Unidade como expansão no Espaço e Infinito no Tempo” tem a ver com viver uma vida espiritual ou transformação espiritual? Em resposta pode-se dizer que a Teosofia expõe uma filosofia de evolução espiritual e, para levar uma vida verdadeiramente espiritual, devemos também seguir as transformações delineadas no esquema do caminho evolucionário da Humanidade. Em A Doutrina Secreta, vol. II, Antropogênese, Stanza IV Sloka 17, vemos que um dos propósitos evolucionários da Humanidade é evoluir “uma mente que abrace o universo”. Para ser verdadeiramente universal, este “abraço” deve incluir não apenas Todo Espaço (e tudo que ele contém), mas também ser infinito no Tempo, pelo menos dentro do contexto do ciclo evolucionário correspondente. Esta capacidade potencial inerente de nossa mente de ser capaz de abraçar o universo, só será alcançada através do processo de evolução. No entanto, diz-se que nosso Ego Espiritual real, Manas Superior, já é, em larga escala, universal e não é limitado no espaço e no tempo como somos no âmbito de nossa personalidade. O Diagrama pode nos ajudar a fazer um contato maior com nosso Manas Superior, porque ele abre ou dirige nosso manas inferior para o Superior.
Segundo, sendo o Diagrama formado por uma série de passos, pode-se pensar que ele é apenas um outro método que pode resultar não numa transformação real, mas num tipo de condicionamento sutil. Este é um perigo potencial de todos os métodos que levam a um entendimento da vida e facilitam ou ocasionam mudanças dentro das pessoas. Entretanto, quando um método se baseia na Verdade ou Realidade, através do genuíno entendimento da Sabedoria Antiga e, assim, baseado na natureza de nosso ser verdadeiro ou real, parece que ele tem a possibilidade de transformação real, contanto que sejamos capazes de ir além da intelectualização do processo, em direção ao que ele aponta. O Diagrama também pede que “concebamos” e “moldemos nossa consciência normal” pela “Presença Perpétua na imaginação em todo Espaço e Tempo”. À primeira vista, isto pode parecer mera conceitualização, porém Sri Krishna Prem e Sri Madhava Ashish explicam em Man, The Measure of All Things (Homem, a Medida de Todas as Coisas), p. 86:
“Fundamentalmente, o poder de criar imagens é o mesmo de saber... O ato de criar imagens é exatamente o ato de saber, como é qualquer percepção dos dados dos sentidos, mas é algo que acontece num nível mais sutil do que o físico. … e o fato de que os homens comuns não serem capazes de usar efetivamente este meio de saber é porque, como acontece com qualquer outra faculdade que é insuficientemente usada e treinada, seu poder de criar imagens permanece infantil e praticamente num estado inútil."
Este artigo esforçar-se-á para mostrar, ainda, que o Diagrama se baseia nas perspectivas de nosso Eu real ou verdadeiro, não da personalidade, e aponta para a natureza de nossa consciência superior. Na seção Perdas, ele também mostra, de maneira única, que nossas percepções condicionadas pela perspectiva pessoal não são reais do ponto de vista de nosso Eu real. É importante notar que ele também aponta como essas percepções podem ser superadas.
A Base Esotérica do Diagrama de Meditação de HPB
A profundidade esotérica do Diagrama pode ser vista a partir do fato de ele ser baseado nos princípios esotéricos fundamentais. Este artigo terá como foco principal as notas principais dos quatro passos fundamentais no processo do Diagrama e cobre brevemente alguns dos princípios esotéricos nos quais ele se baseia.
Diagrama: “Primeiro, conceba a UNIDADE como Expansão no Espaço e Infinito no Tempo."
A importância da Unidade como uma lei fundamental se encontra em A Doutrina Secreta, Vol I, p. 120:
"A unidade radical da essência última de cada parte constituinte dos compostos da Natureza, da Estrela ao átomo mineral, do mais elevado Dhyan Chohan ao menor infusório, no sentido completo do termo, aplicado tanto ao mundo espiritual, intelectual ou físico – esta é a lei fundamental única em Ciência Oculta."
Isto é reforçado em The Secret Doctrine and its Study, registrado pelo Comandante Robert Bowen em 1891. HPB diz que o princípio esotérico mais importante que se deve manter em mente é:
"A UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODA EXISTÊNCIA; Esta unidade é algo totalmente diferente da noção comum de unidade – como quando dizemos que uma nação ou um exército está unido... O ensinamento não é esse. O ensinamento é que a existência é UMA COISA, não uma coleção de coisas unidas. Fundamentalmente, há UM SER…É TODO SER…está claro que esta EXISTÊNCIA UNA fundamental, ou Ser Absoluto deve ser a REALIDADE em cada forma que existe….O Átomo, o Homem, o Deus são cada um separadamente, bem como todos, coletivamente, Ser Absoluto em última análise, isto é, sua INDIVIDUALIDADE REAL."
Se devemos abrir nossa consciência para o divino, então nossa consciência deve se abrir para as percepções e sentimentos da Unidade do Todo, que são inerentes à sua natureza pura.
A importância do Espaço, que é a Mãe Eterna, e do Tempo, é enfatizado pelo fato de que na Cosmogênese de A Doutrina Secreta, eles são os primeiros elementos tratados nas Slokas 1 e 2 respectivamente:
“A Mãe Eterna (Espaço), envolta em seus mantos invisíveis, dormiu mais uma vez por sete eternidades”. “O Espaço Mãe” é eterno, A causa sempre presente de tudo – a DIVINDADE incompreensível,”
O Proêmio de A Doutrina Secreta, vol. I, cita o Catecismo Oculto:
“O que é que sempre é?”
“O Espaço, o eterno Anupadaka."
“O que é que sempre foi?"
“O germe na Raiz."
“O que é que está sempre indo e vindo?"
“O Grande Sopro."
“Então, há Três Eternos?"
“Não os três são um. Aquele que sempre é, é um, aquele que sempre foi, é um e aquele que está sempre sendo e se tornando, é também um: e isto tudo é o Espaço."
Nas citações acima fica claro que o Espaço tem uma significância mais profunda. Entretanto, não é apenas o Espaço objetivo que vemos quando olhamos à nossa volta ou para o céu, mas o Espaço subjetivo que se pode experienciar ou viajar dentro da própria consciência. Com relação ao Tempo, em A Doutrina Secreta, vol. I, Stanza I, Sloka 2, encontramos:
"O Tempo não era, pois ele dormia no colo infinito da duração (a). (a) O Tempo é apenas uma ilusão produzida pela sucessão de nossos estados de consciência quando viajamos através da duração eterna e não existe onde a consciência não existe, na qual a ilusão pudesse ser produzida;"
Novamente, em A Doutrina Secreta, vol. I, Stanza I, Sloka 6:
"O que é o Tempo, por exemplo, senão a sucessão panorâmica de nossos estados de consciência? Nas palavras de um Mestre: “Fico irritado por ter que usar essas três palavras inapropriadas – Passado, Presente e Futuro – conceitos lamentáveis das fases objetivas do todo subjetivo; elas são tão inapropriadas quanto o machado é para a escultura."
A prática de conceber a “UNIDADE como expansão no Espaço e Infinita no Tempo” expande e direciona nossa consciência para o exato centro de nossa natureza real e pode nos ajudar a “reconhecer nosso verdadeiro Eu numa vida divina transcendental”, porque é baseado no que já e inerente à nossa natureza real.
Diagrama: "Então, medite lógica e consistentemente nisso com referência aos estados de consciência."
Esta parte da meditação trata dos estados ou planos de consciência que formam o Universo. Encontramos referências a esses estados de consciência em várias obras espirituais, de Yoga e teosóficas. Por exemplo, no Glossário da Parte I de A Voz do Silêncio, notas 14 e 15:
“Os estados de consciência são Jugrat, o despertar; Swapna, o sonho e Sushupti, o estado de sono profundo. Essas três condições Yogi levam ao quarto, o Turya, que é o estado sem sonho, o que está acima de todos; um estado de elevada consciência espiritual."
Em The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky 2 ed., revisada e ampliada,
"é somente no estado Turya, o mais elevado dos sete passos do Raja-Yoga, que o Yogi pode representar para si mesmo aquilo que é abstrato." E na página 15: “Entra-se no estado Turya no quarto passo".
Esses estados representam os estágios ou fases de movimento entre os estados de consciência objetiva e subjetiva. Eles não são exatamente os estados de despertar, sonho ou sono profundo que conhecemos no âmbito de nossa personalidade, mas parecem representar as chaves para o caminho místico interno de união com nosso Eu Superior.
Aquisições e Perdas – “Transformações através de Manas pela acumulação de experiência”.
Um entendimento claro do papel das Aquisições e Perdas pode ser obtido quando se considera um dos processos evolucionários fundamentais: "Transformações através de Manas pela acumulação de experiência". Em A Doutrina Secreta, vol. I, p. 181, encontramos:
"Este corpo serve como veículo para o “crescimento” (usando uma palavra inapropriada) e transformações, através de Manas e – devido à acumulação de experiências – do finito em INFINITO, do transitório em Eterno e Absoluto".
Nosso Manas Superior, o verdadeiro Ego Espiritual adquire (daí as aquisições) com a experiência ganha através de suas encarnações e é transformado de acordo com a lei evolucionária. O que o nosso verdadeiro Ego Espiritual adquire está explicitado na citação acima. Dentro do processo evolucionário, há uma transformação “do finito em INFINITO, do transitório em Eterno e Absoluto". Isto acontece com as “acumulações de experiência”, que resultam no crescimento do discernimento entre o Real e o irreal e entre o permanente ou Eterno e o transitório. Parece que inclusa neste processo está a evolução de “uma mente que abrace o Universo”. Entretanto, a humanidade tem autoconsciência e, por isso, deve escolher. Parece que uma das escolhas fundamentais a ser feita é se agimos para o benefício do Todo ou por motivos egoístas. Quando agimos com o motivo do benefício para o Todo (isto é, com sentimentos ou percepções da Unidade), então o processo de transformação ocorre. O Diagrama parece ser designado a ajudar a acelerar o processo pelo qual o entendimento e o discernimento e talvez a percepção direta entre o Real e o irreal aconteça. Isso ocorre porque o processo meditativo do Diagrama é baseado nas percepções do ponto de vista de nosso Ego Espiritual verdadeiro, isto é, do Real. Seu objetivo é re-focalizar nosso senso de identidade da personalidade para o Ego Espiritual real. Em termos gerais, as Aquisições voltam a mente em direção ao Real e desenvolvem percepções com ações resultantes baseadas na verdade e as Perdas levam ao discernimento sobre o que é irreal ou ilusório e,assim, enfraquecem a manutenção do irreal. Olhando para isso mais profundamente, em A Doutrina Secreta, Vol. I, Stanza VII, Sloka 6, temos:
”Desde o Primeiro-Nascido (o primeiro homem, o primitivo), o Fio entre o Vigilante Silencioso e suas Sombras torna-se cada vez mais forte e radiante a cada mudança (reencarnação) (a)". …. O “Vigilante” e suas “Sombras” – estas últimas sendo tão numerosas quantas forem as reencarnações da Mônada – são uma e a mesma coisa. O Vigilante, ou o protótipo divino está no degrau superior da escada do ser; a sombra, no degrau inferior. Também, a Mônada de cada ser vivo, a menos que sua torpidez moral quebre a conexão e siga solta e “desvie para o caminho lunar” – usando uma expressão Oculta – é um Dhyan Chohan individual, distinto dos outros, um tipo de individualidade espiritual peculiar a si mesma, durante um determinado Manvantara".
Normalmente, o termo “Fio” é usado para o “Fio da Alma”, o Sutratman. Na citação usada, ele também pode significar Antahkarana que HPB descreve no Collected Writings Vol XII p. 633/4 como o "...caminho que fica entre os Egos divino e humano,” e que nunca pode ser rompido enquanto existir uma ação espiritual que sirva como um “fio de união". No The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky, p.70, “Depois da morte, a luz superior (Antahkarana) que carrega a memória e está impregnada de todas as aspirações boas e nobres, se assimila ao Ego Superior". Parece que essas aspirações boas e nobres formam as pérolas que são presas ao longo do Sutratman.
Esse “Fio” é o Antahkarana, o puro raio de Manas Superior, emitido para dentro deste mundo de objetividade para conectar-se com a personalidade. Aquela porção do raio que permanece puro, que não sofre influência do Kama, forma o Antahkarana. Este é o meio pelo qual o Ego Espiritual real reúne as experiências de suas encarnações, mas também o meio pelo qual ele busca influenciar o eu inferior, a personalidade. É através do Antahkarana que temos a habilidade de discernir entre o certo e o errado; no Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky, p.70: “Todo o destino de uma encarnação depende do fato de se o Antahkarana será capaz de refrear o Kama-Manas ou não." A importância desta regra guia e repressora é enfatizada em The Voice of the Silence, in the Two Paths, p. 38:
"Reprima, pelo teu Eu Divino, teu eu inferior"."Reprima pelo Eterno, o Divino.""Ah, grande é aquele que é o assassino do desejo."
É muito difícil e, talvez, não aconselhável traçar linhas muito claras de demarcação entre os diferentes níveis de nossa natureza superior. No entanto, considerar a escada ascendente de nosso ser, do espiritual ao Divino e ao Eterno, pode ser de alguma ajuda. Parece que o Divino é o Ego Espiritual real, o Manas Superior em união com Buddhi, o veículo de Atma; e o Eterno é o Eu Superior, o Atma, o raio inseparável do EU UNO e Universal.
No Diagrama, as Aquisições e Perdas são precedidas pelo “Então, o estado normal de nossa consciência deve ser moldado por:". Isto indica que o papel das Aquisições e Perdas é fortalecer a influência do Ego Espiritual real via Antahkarana sobre o eu inferior. Isto acontece não apenas na meditação que se faz sentado, mas também deve ser acontecer na vida diária.
Diagrama: Aquisições – “Eu sou todo o Espaço e Tempo. Além disso … (não pode ser dito)”
A natureza de nosso Ego Espiritual real é de todo Espaço e Tempo. Este é um método positivo de identificar somente com o Real, o Infinito e o Eterno, que a mente somente pode conceber em termos de “Eu sou todo Espaço e Tempo. Além disso... (não pode ser dito)".
A primeira sub-aquisição afirma que o estado normal de nossa consciência deve ser moldado pela “Presença perpétua na Imaginação em todo Espaço e Tempo”. Isto, junto com “Eu sou todo Espaço e Tempo. Além disso… (não pode ser dito)” aponta para um estado de saber ou consciência que parece se correlacionar com as palavras do Maha Chohan: “reconhecer nosso verdadeiro Eu, numa vida divina transcendental” e com certas observações de Krishnamurti, embora ele se expresse de maneiras diferentes. No Notebook de Krishnamurti, p.143: "A meditação levou à diferença; era de uma pureza estilhaçada. Sua pureza não deixou resíduos; ela estava lá, isto é, tudo e nada existiam. Como não havia nada, ele era. Era a pureza de toda essência. Esta paz é um vasto espaço sem limites de um vazio imensurável." Na p.160: "Este novo, esta profundidade estava expandindo, explodindo, indo embora, desenvolvendo suas próprias explosões, porém fora do tempo e além do tempo e do espaço". Luz no Caminho, regra 4, p. 20 nos diz: "Não viva nem no presente nem no futuro, mas no Eterno".
As outras sub-aquisições também visam trazer percepções e sentimentos que resultam em comportamento alinhado com a visão de vida da perspectiva da Unidade transcendental da VIDA UNA. Em resumo, elas focalizam na Unidade essencial e, daí, na equidade interna última de toda a humanidade e a percepção de que a encarnação traz limitações a todos os seres e, portanto, qualquer crítica (discernimento?) deve ser sem glorificação nem depreciação. Essas percepções dão origem à benevolência, simpatia, justiça etc., e o comportamento resultante faz parte da prática das virtudes transcendentais ou Paramitas.
Diagrama: Perdas – “Eu sou sem atributos”
Nosso senso de eu, no nível pessoal é um agregado complexo de “atributos”, formado por nossa natureza inferior e nossas experiências no mundo, resultando em nosso condicionamento. No Diagram of the Scale of Emanations (Diagrama da Escala das Emanações) do The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky, p. 90, podemos ver que os atributos são emanações da personalidade, o eu ilusório, e não do Ego Espiritual real que é representado pelos Kumaras. A carta do Maha Chohan nos diz para “nos livrarmos de nosso próprio Ego, o eu ilusório e aparente” e as Perdas informam que nosso Eu real é, na verdade, sem esses atributos e é mantido em “servidão, ignorância e luta” por causa de nossa identificação com esses atributos. Da perspectiva do Ego Espiritual real, cuja vida real alcança e é parte de uma vida divina transcendental em Todo Espaço e Tempo, os atributos não são reais e não existem no plano do Ego Espiritual real.
No Diagrama, as Perdas são precedidas por: “Recusa constante de pensar na realidade da lista de atributos”. Isto parece se relacionar com a frase do Maha Chohan “livrarmo-nos de nosso próprio Ego, o eu ilusório e aparente” e também com a frase de Krishnamurti “morrer para o conhecido". Os atributos representam o que é conhecido e considerado real no nível pessoal, mas, de acordo com o Diagrama, eles não são reais para o nosso verdadeiro Ego Espiritual. Para que nosso Ego Espiritual real seja libertado, devemos morrer para o que é normalmente “o conhecido”, que são os atributos. Meditar sobre as Perdas resulta não apenas na desidentificação de nosso senso do eu com esses “atributos”, mas com a percepção positiva de que “Eu sou sem atributos”. Ela produz a consciência constante de que os atributos não são parte do Eu verdadeiro. A prática das Perdas pode ter um papel importante para restringir o eu inferior pelo Antahkarana, aquele aspecto puro do Manas que não é poluído pelo Kama e que ouve e responde ao Ego Espiritual real.
Embora as Aquisições e Perdas são praticadas na meditação que se faz sentado, elas também devem ser praticadas na vida diária. A própria vida é um grande instrutor e os problemas que a vida traz, embora possam ser causa de sofrimento, podem também ser os meios para insight e, portanto, transformação espiritual. O Diagrama fornece um meio, entre os desafios da vida diária, para desenvolver e manter as percepções espirituais e o desapego.
Conclusão
O Diagrama de Meditação de HPB é baseado em alguns dos princípios esotéricos fundamentais sobre a natureza da Divindade e do Ser. Ele mostra o que na nossa natureza é real, permanente e transcendental e o que é ilusório e transitório. Seu método único é um caminho ou processo de transformação espiritual, fornecendo indicadores de percepções da perspectiva da Unidade transcendental da vida una. Tal é seu objetivo e profundidade, que ela contém não apenas o caminho yóguico místico da união interna com nosso Eu Superior através dos dois primeiros passos, mas também, nas Aquisições e Perdas, a base para a prática das paramitas no decorrer da vida diária.
Roger Price , Theosophist, p. 300-309, maio 2003
Uma das gemas deixadas para nós por H. P. Blavatsky (HPB) é seu Diagrama de Meditação, cuja cópia foi registrada por E. T. Sturdy, um dos membros de seu Grupo Interno. Este artigo vai tratar de alguns princípios esotéricos nos quais o diagrama baseia seu valor no processo de transformação espiritual. Quando se considera sobre o que é o processo de transformação, talvez se ganhe uma visão geral de uma das passagens da “Carta do Maha Chohan” do livro Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett:
"Todos nós temos que nos livrar de nosso próprio Ego, nosso eu aparente e ilusório para reconhecer nosso verdadeiro Eu numa vida divina transcendental. Se não formos egoístas, devemos lutar para levar outras pessoas a verem a verdade e reconhecerem a realidade do Eu transcendental, o Buddha, o Cristo ou Deus de todos os pregadores."
A citação acima esclarece que nosso Eu real não é a personalidade que, do ponto de vista espiritual, é apenas nosso eu aparente e que nosso Eu real está na vida divina transcendental. A verdadeira transformação spiritual acontece quando somos capazes de “nos livrarmos” de percepções e sentimentos que são o ego pessoal e “reconhecer nosso real e verdadeiro Eu (e o de cada ser) na vida divina transcendental”. É um processo progressivo de distinguir entre o que é real e permanente e o que é ilusório e transitório e exige uma desidentificação com o que é ilusório e uma reidentificação com o que é real. Esse processo exige que as percepções e sentimentos mudem para refletir a Unidade da Vida e é facilitado quando isso acontece. Assim, a citação também reforça a importância de superar o egoísmo (que surge do senso de separatividade) ajudando outros a perceberem esta verdade universal que se encontra em todas as religiões. Isso implica que a verdadeira transformação espiritual exige não apenas perspectivas e valores universais verdadeiros que nascem do senso de Unidade de Toda Vida, mas também, do compromisso de viver ou trabalhar para o benefício de todos. A prática do Diagrama direciona a consciência para o real e fornece insigts sobre o que é ilusório, ajudando assim o processo de transformação espiritual.
Qualquer método de transformação spiritual deve ser de uso prático e capaz de facilitar mudanças, não apenas em perspectivas e valores, mas principalmente, na consciência. Isto exige que o método traga mudanças que estão alinhadas com a verdade universal, que é a realidade, e liberte a consciência dos condicionamentos e ilusões. Tendo isso em mente, duas preocupações sobre o Diagrama surgem. Primeiro, pode-se pensar que o Diagrama é muito abstrato ou metafísico e, assim, sem uso prático. O que o processo de tentar “Conceber a Unidade como expansão no Espaço e Infinito no Tempo” tem a ver com viver uma vida espiritual ou transformação espiritual? Em resposta pode-se dizer que a Teosofia expõe uma filosofia de evolução espiritual e, para levar uma vida verdadeiramente espiritual, devemos também seguir as transformações delineadas no esquema do caminho evolucionário da Humanidade. Em A Doutrina Secreta, vol. II, Antropogênese, Stanza IV Sloka 17, vemos que um dos propósitos evolucionários da Humanidade é evoluir “uma mente que abrace o universo”. Para ser verdadeiramente universal, este “abraço” deve incluir não apenas Todo Espaço (e tudo que ele contém), mas também ser infinito no Tempo, pelo menos dentro do contexto do ciclo evolucionário correspondente. Esta capacidade potencial inerente de nossa mente de ser capaz de abraçar o universo, só será alcançada através do processo de evolução. No entanto, diz-se que nosso Ego Espiritual real, Manas Superior, já é, em larga escala, universal e não é limitado no espaço e no tempo como somos no âmbito de nossa personalidade. O Diagrama pode nos ajudar a fazer um contato maior com nosso Manas Superior, porque ele abre ou dirige nosso manas inferior para o Superior.
Segundo, sendo o Diagrama formado por uma série de passos, pode-se pensar que ele é apenas um outro método que pode resultar não numa transformação real, mas num tipo de condicionamento sutil. Este é um perigo potencial de todos os métodos que levam a um entendimento da vida e facilitam ou ocasionam mudanças dentro das pessoas. Entretanto, quando um método se baseia na Verdade ou Realidade, através do genuíno entendimento da Sabedoria Antiga e, assim, baseado na natureza de nosso ser verdadeiro ou real, parece que ele tem a possibilidade de transformação real, contanto que sejamos capazes de ir além da intelectualização do processo, em direção ao que ele aponta. O Diagrama também pede que “concebamos” e “moldemos nossa consciência normal” pela “Presença Perpétua na imaginação em todo Espaço e Tempo”. À primeira vista, isto pode parecer mera conceitualização, porém Sri Krishna Prem e Sri Madhava Ashish explicam em Man, The Measure of All Things (Homem, a Medida de Todas as Coisas), p. 86:
“Fundamentalmente, o poder de criar imagens é o mesmo de saber... O ato de criar imagens é exatamente o ato de saber, como é qualquer percepção dos dados dos sentidos, mas é algo que acontece num nível mais sutil do que o físico. … e o fato de que os homens comuns não serem capazes de usar efetivamente este meio de saber é porque, como acontece com qualquer outra faculdade que é insuficientemente usada e treinada, seu poder de criar imagens permanece infantil e praticamente num estado inútil."
Este artigo esforçar-se-á para mostrar, ainda, que o Diagrama se baseia nas perspectivas de nosso Eu real ou verdadeiro, não da personalidade, e aponta para a natureza de nossa consciência superior. Na seção Perdas, ele também mostra, de maneira única, que nossas percepções condicionadas pela perspectiva pessoal não são reais do ponto de vista de nosso Eu real. É importante notar que ele também aponta como essas percepções podem ser superadas.
A Base Esotérica do Diagrama de Meditação de HPB
A profundidade esotérica do Diagrama pode ser vista a partir do fato de ele ser baseado nos princípios esotéricos fundamentais. Este artigo terá como foco principal as notas principais dos quatro passos fundamentais no processo do Diagrama e cobre brevemente alguns dos princípios esotéricos nos quais ele se baseia.
Diagrama: “Primeiro, conceba a UNIDADE como Expansão no Espaço e Infinito no Tempo."
A importância da Unidade como uma lei fundamental se encontra em A Doutrina Secreta, Vol I, p. 120:
"A unidade radical da essência última de cada parte constituinte dos compostos da Natureza, da Estrela ao átomo mineral, do mais elevado Dhyan Chohan ao menor infusório, no sentido completo do termo, aplicado tanto ao mundo espiritual, intelectual ou físico – esta é a lei fundamental única em Ciência Oculta."
Isto é reforçado em The Secret Doctrine and its Study, registrado pelo Comandante Robert Bowen em 1891. HPB diz que o princípio esotérico mais importante que se deve manter em mente é:
"A UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODA EXISTÊNCIA; Esta unidade é algo totalmente diferente da noção comum de unidade – como quando dizemos que uma nação ou um exército está unido... O ensinamento não é esse. O ensinamento é que a existência é UMA COISA, não uma coleção de coisas unidas. Fundamentalmente, há UM SER…É TODO SER…está claro que esta EXISTÊNCIA UNA fundamental, ou Ser Absoluto deve ser a REALIDADE em cada forma que existe….O Átomo, o Homem, o Deus são cada um separadamente, bem como todos, coletivamente, Ser Absoluto em última análise, isto é, sua INDIVIDUALIDADE REAL."
Se devemos abrir nossa consciência para o divino, então nossa consciência deve se abrir para as percepções e sentimentos da Unidade do Todo, que são inerentes à sua natureza pura.
A importância do Espaço, que é a Mãe Eterna, e do Tempo, é enfatizado pelo fato de que na Cosmogênese de A Doutrina Secreta, eles são os primeiros elementos tratados nas Slokas 1 e 2 respectivamente:
“A Mãe Eterna (Espaço), envolta em seus mantos invisíveis, dormiu mais uma vez por sete eternidades”. “O Espaço Mãe” é eterno, A causa sempre presente de tudo – a DIVINDADE incompreensível,”
O Proêmio de A Doutrina Secreta, vol. I, cita o Catecismo Oculto:
“O que é que sempre é?”
“O Espaço, o eterno Anupadaka."
“O que é que sempre foi?"
“O germe na Raiz."
“O que é que está sempre indo e vindo?"
“O Grande Sopro."
“Então, há Três Eternos?"
“Não os três são um. Aquele que sempre é, é um, aquele que sempre foi, é um e aquele que está sempre sendo e se tornando, é também um: e isto tudo é o Espaço."
Nas citações acima fica claro que o Espaço tem uma significância mais profunda. Entretanto, não é apenas o Espaço objetivo que vemos quando olhamos à nossa volta ou para o céu, mas o Espaço subjetivo que se pode experienciar ou viajar dentro da própria consciência. Com relação ao Tempo, em A Doutrina Secreta, vol. I, Stanza I, Sloka 2, encontramos:
"O Tempo não era, pois ele dormia no colo infinito da duração (a). (a) O Tempo é apenas uma ilusão produzida pela sucessão de nossos estados de consciência quando viajamos através da duração eterna e não existe onde a consciência não existe, na qual a ilusão pudesse ser produzida;"
Novamente, em A Doutrina Secreta, vol. I, Stanza I, Sloka 6:
"O que é o Tempo, por exemplo, senão a sucessão panorâmica de nossos estados de consciência? Nas palavras de um Mestre: “Fico irritado por ter que usar essas três palavras inapropriadas – Passado, Presente e Futuro – conceitos lamentáveis das fases objetivas do todo subjetivo; elas são tão inapropriadas quanto o machado é para a escultura."
A prática de conceber a “UNIDADE como expansão no Espaço e Infinita no Tempo” expande e direciona nossa consciência para o exato centro de nossa natureza real e pode nos ajudar a “reconhecer nosso verdadeiro Eu numa vida divina transcendental”, porque é baseado no que já e inerente à nossa natureza real.
Diagrama: "Então, medite lógica e consistentemente nisso com referência aos estados de consciência."
Esta parte da meditação trata dos estados ou planos de consciência que formam o Universo. Encontramos referências a esses estados de consciência em várias obras espirituais, de Yoga e teosóficas. Por exemplo, no Glossário da Parte I de A Voz do Silêncio, notas 14 e 15:
“Os estados de consciência são Jugrat, o despertar; Swapna, o sonho e Sushupti, o estado de sono profundo. Essas três condições Yogi levam ao quarto, o Turya, que é o estado sem sonho, o que está acima de todos; um estado de elevada consciência espiritual."
Em The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky 2 ed., revisada e ampliada,
"é somente no estado Turya, o mais elevado dos sete passos do Raja-Yoga, que o Yogi pode representar para si mesmo aquilo que é abstrato." E na página 15: “Entra-se no estado Turya no quarto passo".
Esses estados representam os estágios ou fases de movimento entre os estados de consciência objetiva e subjetiva. Eles não são exatamente os estados de despertar, sonho ou sono profundo que conhecemos no âmbito de nossa personalidade, mas parecem representar as chaves para o caminho místico interno de união com nosso Eu Superior.
Aquisições e Perdas – “Transformações através de Manas pela acumulação de experiência”.
Um entendimento claro do papel das Aquisições e Perdas pode ser obtido quando se considera um dos processos evolucionários fundamentais: "Transformações através de Manas pela acumulação de experiência". Em A Doutrina Secreta, vol. I, p. 181, encontramos:
"Este corpo serve como veículo para o “crescimento” (usando uma palavra inapropriada) e transformações, através de Manas e – devido à acumulação de experiências – do finito em INFINITO, do transitório em Eterno e Absoluto".
Nosso Manas Superior, o verdadeiro Ego Espiritual adquire (daí as aquisições) com a experiência ganha através de suas encarnações e é transformado de acordo com a lei evolucionária. O que o nosso verdadeiro Ego Espiritual adquire está explicitado na citação acima. Dentro do processo evolucionário, há uma transformação “do finito em INFINITO, do transitório em Eterno e Absoluto". Isto acontece com as “acumulações de experiência”, que resultam no crescimento do discernimento entre o Real e o irreal e entre o permanente ou Eterno e o transitório. Parece que inclusa neste processo está a evolução de “uma mente que abrace o Universo”. Entretanto, a humanidade tem autoconsciência e, por isso, deve escolher. Parece que uma das escolhas fundamentais a ser feita é se agimos para o benefício do Todo ou por motivos egoístas. Quando agimos com o motivo do benefício para o Todo (isto é, com sentimentos ou percepções da Unidade), então o processo de transformação ocorre. O Diagrama parece ser designado a ajudar a acelerar o processo pelo qual o entendimento e o discernimento e talvez a percepção direta entre o Real e o irreal aconteça. Isso ocorre porque o processo meditativo do Diagrama é baseado nas percepções do ponto de vista de nosso Ego Espiritual verdadeiro, isto é, do Real. Seu objetivo é re-focalizar nosso senso de identidade da personalidade para o Ego Espiritual real. Em termos gerais, as Aquisições voltam a mente em direção ao Real e desenvolvem percepções com ações resultantes baseadas na verdade e as Perdas levam ao discernimento sobre o que é irreal ou ilusório e,assim, enfraquecem a manutenção do irreal. Olhando para isso mais profundamente, em A Doutrina Secreta, Vol. I, Stanza VII, Sloka 6, temos:
”Desde o Primeiro-Nascido (o primeiro homem, o primitivo), o Fio entre o Vigilante Silencioso e suas Sombras torna-se cada vez mais forte e radiante a cada mudança (reencarnação) (a)". …. O “Vigilante” e suas “Sombras” – estas últimas sendo tão numerosas quantas forem as reencarnações da Mônada – são uma e a mesma coisa. O Vigilante, ou o protótipo divino está no degrau superior da escada do ser; a sombra, no degrau inferior. Também, a Mônada de cada ser vivo, a menos que sua torpidez moral quebre a conexão e siga solta e “desvie para o caminho lunar” – usando uma expressão Oculta – é um Dhyan Chohan individual, distinto dos outros, um tipo de individualidade espiritual peculiar a si mesma, durante um determinado Manvantara".
Normalmente, o termo “Fio” é usado para o “Fio da Alma”, o Sutratman. Na citação usada, ele também pode significar Antahkarana que HPB descreve no Collected Writings Vol XII p. 633/4 como o "...caminho que fica entre os Egos divino e humano,” e que nunca pode ser rompido enquanto existir uma ação espiritual que sirva como um “fio de união". No The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky, p.70, “Depois da morte, a luz superior (Antahkarana) que carrega a memória e está impregnada de todas as aspirações boas e nobres, se assimila ao Ego Superior". Parece que essas aspirações boas e nobres formam as pérolas que são presas ao longo do Sutratman.
Esse “Fio” é o Antahkarana, o puro raio de Manas Superior, emitido para dentro deste mundo de objetividade para conectar-se com a personalidade. Aquela porção do raio que permanece puro, que não sofre influência do Kama, forma o Antahkarana. Este é o meio pelo qual o Ego Espiritual real reúne as experiências de suas encarnações, mas também o meio pelo qual ele busca influenciar o eu inferior, a personalidade. É através do Antahkarana que temos a habilidade de discernir entre o certo e o errado; no Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky, p.70: “Todo o destino de uma encarnação depende do fato de se o Antahkarana será capaz de refrear o Kama-Manas ou não." A importância desta regra guia e repressora é enfatizada em The Voice of the Silence, in the Two Paths, p. 38:
"Reprima, pelo teu Eu Divino, teu eu inferior"."Reprima pelo Eterno, o Divino.""Ah, grande é aquele que é o assassino do desejo."
É muito difícil e, talvez, não aconselhável traçar linhas muito claras de demarcação entre os diferentes níveis de nossa natureza superior. No entanto, considerar a escada ascendente de nosso ser, do espiritual ao Divino e ao Eterno, pode ser de alguma ajuda. Parece que o Divino é o Ego Espiritual real, o Manas Superior em união com Buddhi, o veículo de Atma; e o Eterno é o Eu Superior, o Atma, o raio inseparável do EU UNO e Universal.
No Diagrama, as Aquisições e Perdas são precedidas pelo “Então, o estado normal de nossa consciência deve ser moldado por:". Isto indica que o papel das Aquisições e Perdas é fortalecer a influência do Ego Espiritual real via Antahkarana sobre o eu inferior. Isto acontece não apenas na meditação que se faz sentado, mas também deve ser acontecer na vida diária.
Diagrama: Aquisições – “Eu sou todo o Espaço e Tempo. Além disso … (não pode ser dito)”
A natureza de nosso Ego Espiritual real é de todo Espaço e Tempo. Este é um método positivo de identificar somente com o Real, o Infinito e o Eterno, que a mente somente pode conceber em termos de “Eu sou todo Espaço e Tempo. Além disso... (não pode ser dito)".
A primeira sub-aquisição afirma que o estado normal de nossa consciência deve ser moldado pela “Presença perpétua na Imaginação em todo Espaço e Tempo”. Isto, junto com “Eu sou todo Espaço e Tempo. Além disso… (não pode ser dito)” aponta para um estado de saber ou consciência que parece se correlacionar com as palavras do Maha Chohan: “reconhecer nosso verdadeiro Eu, numa vida divina transcendental” e com certas observações de Krishnamurti, embora ele se expresse de maneiras diferentes. No Notebook de Krishnamurti, p.143: "A meditação levou à diferença; era de uma pureza estilhaçada. Sua pureza não deixou resíduos; ela estava lá, isto é, tudo e nada existiam. Como não havia nada, ele era. Era a pureza de toda essência. Esta paz é um vasto espaço sem limites de um vazio imensurável." Na p.160: "Este novo, esta profundidade estava expandindo, explodindo, indo embora, desenvolvendo suas próprias explosões, porém fora do tempo e além do tempo e do espaço". Luz no Caminho, regra 4, p. 20 nos diz: "Não viva nem no presente nem no futuro, mas no Eterno".
As outras sub-aquisições também visam trazer percepções e sentimentos que resultam em comportamento alinhado com a visão de vida da perspectiva da Unidade transcendental da VIDA UNA. Em resumo, elas focalizam na Unidade essencial e, daí, na equidade interna última de toda a humanidade e a percepção de que a encarnação traz limitações a todos os seres e, portanto, qualquer crítica (discernimento?) deve ser sem glorificação nem depreciação. Essas percepções dão origem à benevolência, simpatia, justiça etc., e o comportamento resultante faz parte da prática das virtudes transcendentais ou Paramitas.
Diagrama: Perdas – “Eu sou sem atributos”
Nosso senso de eu, no nível pessoal é um agregado complexo de “atributos”, formado por nossa natureza inferior e nossas experiências no mundo, resultando em nosso condicionamento. No Diagram of the Scale of Emanations (Diagrama da Escala das Emanações) do The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky, p. 90, podemos ver que os atributos são emanações da personalidade, o eu ilusório, e não do Ego Espiritual real que é representado pelos Kumaras. A carta do Maha Chohan nos diz para “nos livrarmos de nosso próprio Ego, o eu ilusório e aparente” e as Perdas informam que nosso Eu real é, na verdade, sem esses atributos e é mantido em “servidão, ignorância e luta” por causa de nossa identificação com esses atributos. Da perspectiva do Ego Espiritual real, cuja vida real alcança e é parte de uma vida divina transcendental em Todo Espaço e Tempo, os atributos não são reais e não existem no plano do Ego Espiritual real.
No Diagrama, as Perdas são precedidas por: “Recusa constante de pensar na realidade da lista de atributos”. Isto parece se relacionar com a frase do Maha Chohan “livrarmo-nos de nosso próprio Ego, o eu ilusório e aparente” e também com a frase de Krishnamurti “morrer para o conhecido". Os atributos representam o que é conhecido e considerado real no nível pessoal, mas, de acordo com o Diagrama, eles não são reais para o nosso verdadeiro Ego Espiritual. Para que nosso Ego Espiritual real seja libertado, devemos morrer para o que é normalmente “o conhecido”, que são os atributos. Meditar sobre as Perdas resulta não apenas na desidentificação de nosso senso do eu com esses “atributos”, mas com a percepção positiva de que “Eu sou sem atributos”. Ela produz a consciência constante de que os atributos não são parte do Eu verdadeiro. A prática das Perdas pode ter um papel importante para restringir o eu inferior pelo Antahkarana, aquele aspecto puro do Manas que não é poluído pelo Kama e que ouve e responde ao Ego Espiritual real.
Embora as Aquisições e Perdas são praticadas na meditação que se faz sentado, elas também devem ser praticadas na vida diária. A própria vida é um grande instrutor e os problemas que a vida traz, embora possam ser causa de sofrimento, podem também ser os meios para insight e, portanto, transformação espiritual. O Diagrama fornece um meio, entre os desafios da vida diária, para desenvolver e manter as percepções espirituais e o desapego.
Conclusão
O Diagrama de Meditação de HPB é baseado em alguns dos princípios esotéricos fundamentais sobre a natureza da Divindade e do Ser. Ele mostra o que na nossa natureza é real, permanente e transcendental e o que é ilusório e transitório. Seu método único é um caminho ou processo de transformação espiritual, fornecendo indicadores de percepções da perspectiva da Unidade transcendental da vida una. Tal é seu objetivo e profundidade, que ela contém não apenas o caminho yóguico místico da união interna com nosso Eu Superior através dos dois primeiros passos, mas também, nas Aquisições e Perdas, a base para a prática das paramitas no decorrer da vida diária.
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