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segunda-feira, 26 de outubro de 2015
COMO IDENTIFICAR UM ILUMINADO
Você seria capaz de reconhecer um iluminado caso se encontrasse com um? Já pensou que pode haver iluminados vivendo muito próximo a você, talvez, na mesma rua, bairro, cidade ou país? Mas, como reconhecê-los? Existe algum “critério infalível” que nos permita reconhecê-los? Será que os auto intitulados iluminados o são realmente? Todos os iluminados tem grandes missões no mundo assim como Buda, Cristo e outros mais? Não seria importante refletirmos sobre essas questões?
Primeiramente, temos que definir o que se entende por "Iluminados". Iluminado é aquela pessoa que compreende claramente a essência das coisas. É aquele indivíduo que sabe diferenciar o que é verdadeiro do que é falso. É que "despertou". Livrou-se do sono da ignorância e ilusão . É o homem que acordou para a Verdade e não vive mais de enganos, ou mentiras. É o ser liberto da dor psicológica e do desejo de ser, não ser, ou vir-a-ser. Vive na Eternidade, na dimensão do Desconhecido, do Atemporal, além das limitações do pensamento e da prisão do EGO.
Sendo assim, pode ser que o Iluminado não se encaixe em nenhuma das nossas classificações mentais ou convenções sociais. A imagem que geralmente se tem de um iluminado é a de uma pessoa desapegada, calma, serena e amorosa. Em geral, despojada dos vícios e imperfeições humanas. Na verdade, tudo isso são imagens estereotipadas, criadas por nossos desejos e idealizações. Estas imagens, podem ser fantasiosas e , em alguns casos, podem não corresponder à realidade.
Começando por Jesus Cristo, percebemos que ele era, aparentemente, uma pessoa absolutamente comum. Nós, muito provavelmente, não seríamos capaz de identificá-lo como sendo um Avatar. Não havia sinais externos. A Bíblia nos informa que "nem mesmo seus irmãos criam nele” (João 7:5 ). Ou seja, mesmo as pessoas mais íntimas, que conviveram com ele, viram nele algum sinal que o identificasse como um ser superior. Além disso, Jesus manifestou em sua vida terrena, muitas das características humanas consideradas “imperfeitas” tais como raiva, tristeza, solidão, dor, sede, fome etc. Enfim, dificilmente Jesus se encaixaria em qualquer dos nossos padrões estereotipados sobre os iluminados.
Buda, talvez, seja o que mais se aproxima da imagem estereotipada que se criou sobre ele. Isso se deve, provavelmente, por sua postura meditativa e serena . Todavia, resistimos à idéia de que Buda poderia ter manifestado quaisquer dos defeitos humanos - após seu despertar. Como se em um simples click, ele tivesse se tornado perfeito. Essa noção apenas serve para fortalecer o mito – que muito interessa às religiões organizadas de que seus mestres e fundadores eram divinos. Afinal, não se coloca fé no que é humano, mas apenas no que é celestial.
Mas, obviamente o mito não é o real. Buda era uma pessoa comum e não deixou de sê-lo após sua iluminação. Muita gente quer elevar o estatus de Buda ao de um deus, mas ele foi tão humano quanto todos nós somos. Ou tão divino quanto nós também somos. A diferença talvez esteja no grau de percepção desta verdade. Considerar Sidarta Gautama um ser além de todos os defeitos humanos é destruir o cerne do seu próprio ensinamento e missão : provar que todas as pessoas são budas em potencial . Se não podemos nos tornar o que ele se tornou, nem alcançar o que ele alcançou então qual é o sentido de sua vida e missão? Mas se já somos budas em potencial então tudo muda. Mas esta ideia não parece agradar às igrejas, nem às organizações religiosas. Se já somos Budas, por que haveremos de ir às igrejas? Por que haveremos de seguir os monges, os padres e os lamas? Mas, sabemos que muitas pessoas preferem seguir a terem que "descobrir". Muitos se refugiam na imagem estereotipada do salvador como forma de amenizar sua dor, alcançar uma graça ou resolver seu problema. Mas Buda nos ensinou que o refúgio está dentro de nós mesmos. E que a libertação não está nas religiões, nem nos livros, nem nas orações, nem nos gurus, mas na compreensão da verdade sobre si mesmo e a vida.
O fato é que não temos elementos suficientes para analisar se tudo o que se diz sobre Jesus e Buda foi, assim, de fato. Muitos de nós apenas cremos que assim o foi baseado na autoridade das religiões e tradições . Mas o próprio Buda alertou-nos para não crermos na fé das tradições, nem no testemunho de sábios antigos, nem em coisa alguma só porque foi dita e repetida por muita gente. Ou seja, temos que considerar a crença como crença. E a verdade como verdade. E o certo é que não temos como atestar se uma crença é verdadeira ou não. Do contrário, não seria crença. Mas, isso não significa que não podemos fazer conjecturas. Ou levantar hipóteses e dar opiniões. Afinal, crer ou não crer é algo muito, muito pessoal.
Se não temos como sondar os grandes iluminados da antiguidade, resta-nos procurar iluminados mais contemporâneos. Alguns deles, tiveram sua vida, obra e atitudes amplamente registradas. Isso nos confere maior exatidão na busca de saber se nossos estereótipos e imagens, correspondem à realidade ou não. Analisemos abaixo alguns mitos e verdades sobre os iluminados:
· Todo iluminado é pobre.
Mito. Por definição o iluminado não tem apegos nem ao luxo nem à pobreza. Pode ser extremamente pobre como Ramakrishna e Ramana Maharshi. Pode ter uma vida modesta como trabalhador ou exercer uma profissão, como Lahiri Mahasaya e Sri. Yuktéswar. Ou levar uma vida de classe média alta, como Krishnamurti. Este último, apesar de gostar de carros, morar em casas bonitas, usar roupas elegantes e frequentar bons restaurantes, não considerava-se dono dessas coisas. Não andava com dinheiro e dizia que tudo que precisava era um lugar para dormir, roupas para usar e comida para se alimentar.
· O Iluminado não tem vícios, desejos, nem defeitos.
Mito. O vício está ligado ao corpo. Sri. Nisargadatta Maharaj fumava e também comia carne – um hábito considerado pecado mortal pelos conservadores hindus. Krishnamurti, apesar de não ser hindu, era vegetariano, não fumava e não bebia. Todavia, chegou a manifestar desejos carnais, pois teve um relacionamento amoroso com Rosalind Willians Raja Gopal- esposa de seu secretário particular. Isso foi revelado em um livro lançado pela filha de Raja Gopal , Radha Sloss “Lives in the Shadow With J. Krishnamurti”- ainda sem tradução para o português. Este fato não foi desmentido nem por sua biógrafa, Emily Lutiens, nem pelas Fundações que o representam. Para mim, isso não foi motivo de escândalo. Pelo contrário, fiquei satisfeito em saber que ele era tão humano quanto nós e que também teve seus defeitos e deslizes ao longo do seu "processo". Além disso, está coerente com seus ensinamentos, pois nunca pregou a castidade, nem a repressão dos desejos biológicos. O iluminado não é um ser “celestial”, “infalível” , ou “perfeito” - K. quebrou este mito. É bom saber que eles passaram por um processo de desenvolvimento e maturação, como nós estamos passando. Isto nos serve de motivação para buscarmos nossa própria Iluminação. Além do mais, K. nunca se arvorou em santo, ou casto ou qualquer outra coisa. Sua fala era que não importava quem era o orador, e sim se o que ele ensinava era verdadeiro ou não.
· O iluminado deve levar uma vida casta e renunciada.
Mito. Lahiri Mahasaya era casado, pai de família e chegou a ter dois filhos. Trabalhava como contador para sustentar sua família e continuou casado até a morte. Ramakrishna também era casado com Sarada Devi.
· O iluminado não tem emoções humanas, não hesita e não se abala com nada.
Falso. Conta-se que Sri Yukteswar chorou muito quando Yogananda viajou para a América. Jesus agonizou no jardim do Getsêmani, pedindo ao pai para afastar o cálice, libertando-o do drama que estava prestes a viver. É dito também que ele chorou sobre Jerusalém. Krishnamurti demonstrava, com uma certa frequência, impaciência e irritação em público. E, mesmo Babaji, hesitou. Conta-se que ele manifestou o desejo de despojar-se de sua manifestação carnal e pediu a opinião de sua irmã Mataji, esta aconselhou-o a nunca deixar sua forma humana. E assim, ele prometeu fazê-lo – fato descrito no livro Autobiografia de um Yogue.
· O iluminado sabe de tudo.
Outro grave erro. O iluminado sabe de tudo acerca das ilusões da mente, da libertação e da compreensão da Verdade. Mas, não sabe "tudo". Certa vez Krishnamurti estava no Brasil e alguém da plateia perguntou-lhe acerca de seu próprio futuro. K. respondeu que não era advinho. Temos que compreender que o iluminado não tem a posse e controle de seus poderes. Talvez haja casos específico em que a intuição do iluminado se amplie fazendo-o perceber coisas extrafísicas. Mas, estes casos são raros. Temos que lembrar que nem mesmo Jesus se considerava dono de seus poderes. Tudo vinha do Pai, de acordo com suas próprias palavras.
· O iluminado tem poderes.
Em tese sim, mas nem sempre e não necessariamente. Na literatura budista não há um só caso de milagres atribuído a Buda. Nem por isso ele deixou de ser iluminado. Jesus fez muitos milagres. Mas, entende-se que no caso dele, tinha a ver com a particularidade de sua missão. Krishnamurti tinha poderes de cura, mas raramente os usava e não gostava que este fato fosse mencionado. Vários de seus amigos e conhecidos mais próximos testemunharam casos de curas atribuídas a K. Diziam que, na juventude, ele lia cartas antes de serem abertas, percebia auras e ainda tinha poderes de telepatia. Lahiri Mahasaya fez vários milagres, inclusive curou doenças graves. Manifestou ainda: bilocação, materialização e ressuscitação de algumas pessoas. Assim também, com menos regularidade o fez Sri Yukteswar. E Babaji é , em si mesmo, um grande milagre, pois se diz que ele é imortal e não há limites para os seus poderes. Tudo isso foi descrito por Yogananda no livro Autobiografia de um Yogue.
· O iluminado não sonha.
Verdade. Por definição, o iluminado extinguiu a barreira entre o consciente e o inconsciente. Tudo nele é consciência, não havendo, pois, necessidade de sonhar. Em geral eles dormem pouco e vivem a maior parte do tempo em meditação. Krishnamurti descreve em seu diário que costumava “experimentar certos estados interiores ocorridos durante o sono” (DK-13). Lahiri Mahasaya dormia muito pouco, vivia quase que constantemente em samadhi ou consciência desperta.
· Manifestação da Ananda ou Bem-aventurança.
Verdadeiro. Esse é um dos critérios mais convincentes sobre a iluminação: a manifestação da Ananda ou Êxtases. Grandes místicos cristãos, tais como Francisco de Assis e Tereza de Neumann, viveram seus êxtases místicos. Krishnamurti também. Em que difere os êxtases de K. de um santo cristão ou iogue hindu? Nada. A diferença parece estar apenas em elementos periféricos tais como a cultura , o país, a formação e a sociedade em que cada um viveu. Destarte, Francisco de Assis, revivia a paixão de Cristo e isto se refletia em seu corpo através das chagas. Assim também acontecia com Tereza de Neumann, a estigmatizada católica (AI-394). Um hindu provavelmente teria visões de Krishna ou algum outro avatar. Mas a profundidade e a intensidade dos êxtases eram muito parecidos – senão similares. Foi Sri. Yuktéswar quem revelou a importância deste critério na identificação do estado búdico . Yogananda perguntou-lhe quando ele iria encontrar Deus, seu mestre respondeu: “Pode-se adquirir o poder de controlar o universo inteiro e, no entanto, descobrir que Deus se esquiva. O progresso espiritual não é medido pela exibição de poderes externos, mas apenas pela profundeza da bem-aventurança alcançada em meditação”.
Por fim, como poderemos identificar um iluminado se não há sinais externos visíveis comprobatórios e definitivos? Jesus disse que pelos frutos é que se conhece a árvore. Mas também alertou contra os falsos profetas que iria, se possível, enganar até mesmo os eleitos. E hoje em dia, há muita mistificação e muitos Avatares fabricados. Nesta selva de enganação, exploração e ilusão, resta-nos sempre usar o bom-senso, a inteligência e a sabedoria para tentarmos identificar os verdadeiros iluminados pois eles, em geral, são reclusos e nunca anunciam quem verdadeiramente são- a não ser por uma missão muito específica ou para atender uma ordem superior.Basta lembrar-nos de Babaji que viveu em reclusão e anônimato nas regiões do Himalayas por séculos ou até milênios . Se não fosse por Yogananda , o mundo não saberia de sua existência.
Mas, porque queremos tanto encontrar um iluminado? Não seria importante analisarmos essa ânsia, essa angústia, esse desejo de encontrá-los, como se eles fossem solucionar nossos problemas e nos dar a paz que tanto precisamos? O Iluminado nada pode fazer por você que você não possa fazer por si mesmo. Quantos pessoas não foram discípulas de Lahiri Mahasaya, Sri Yukteswar e Yogananda e quantos realmente alcançaram a iluminação? Quantas pessoas conviveram intimamente com Cristo, Buda e Krishnamurti e quantos foram realmente transformados? Esses seres são pura luz e amor, mas se nossas portas estiverem fechadas de nada valerá encontrá-los. E eles não forçam a porta do seu coração. Eles batem, se você abrir eles entram com a luz dos seus ensinamentos. Essa luz é que liberta. Não o seguir, não o adorar, mas o viver realmente aquilo que eles ensinam.
Mas, o problema é que há tantas pessoas se autoentitulando iluminados que fica muito difícil para o leigo ou o buscador saber quem é quem nessa história toda. Por isso que Krishnamurti foi tão insistente em sua guerra contra os gurus. Ele sabia que a Iluminação não depende dos gurus. Se fosse assim, coitados daqueles que não tem dinheiro para viajar para a Índia, o celeiro dos grandes "iluminados". Independente disso, todos os mestres sempre foram unânimes em dizer: quando o discípulo está pronto o guru aparece. Não há necessidade de encontrá-los fisicamente. Qualquer coisa pode lhe dá uma luz, um insight, quando você estiver pronto. Pode ser um livro, a vida, a natureza, a família, os amigos, um acontecimento... qualquer coisa.
Lembro-me que Buda não teve guru, Cristo não teve guru, Krishnamurti não teve guru, nem Ramana o teve . Isso não implica dizer, que não existam os verdadeiros mestres. Nem que não seja bom encontrá-los. Mas eles não são essenciais ao seu despertar. Eles não podem despertá-lo por você. Somente você pode fazer isso e ninguém mais. Abaixo descrevo algumas características que podem ajudar na identificação dos verdadeiros iluminados:
O Verdadeiro Iluminado:
· É desapegado, uma vez que ele não tem EGO. Mas este desapego, não é percebido através de sinais externos, pois é interno.
· Não se abala com ter ou não ter desejos biológicos ou carnais. O que ele não tem é o desejo mental ou psicológico. Pode viver uma vida completamente normal, pois sua liberdade é interior e ele não precisa prová-la pra ninguém.
· Pode ter discípulos ou não. Tanto faz . Depende muito de sua missão particular no mundo. Todavia, o verdadeiro iluminado não anda à caça de discípulos, não se angustia por não tê-los, nem anda por aí se autopromovendo.
· Pode manifestar ou não poderes. Ele nem deseja tê-los, nem deseja não tê-los. Mas, em geral, não buscam aplausos ou aclamação pública e evitam demonstrações públicas de seus poderes.
· Vive completamente no aqui-agora, uma vez que o futuro, o presente e o passado são relatividades do mundo da mente condicionada, do qual o iluminado está liberto.
· Em geral, é humilde, e evita reconhecer a si mesmo como um sábio. Não tem arrogância por seu conhecimento, nem manifesta a detestável falsa humildade. Como dizia Lao Tsé: "o sábio cala, quem fala não sabe". Vive em um eterno aprendizado, ensina baseado em sua própria experiência e percepção direta . Pode ser um orador – como Krishnamurti. Ou falar pouco, como Lahiri Mahasaya e Ramana Maharshi.
Para finalizar, penso que bom senso e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Você é o seu mestre. Cristo, a Verdade ou a Luz estão dentro de nós. E devemos nos guiar por ele sempre. Nem sempre os iluminados se tornam lideres espirituais ou gurus. Talvez, sua missão, naquele momento específico seja ficar anônimo. Podem atuar nas áreas da educação, medicina, física, arte… ou podem simplesmente ser seu vizinho ou colega de trabalho. Há um provérbio hindu que diz que apenas um médico pode reconhecer outro médico. Referindo-se ao fato de que apenas um iluminado pode reconhecer outro iluminado. Como um cego pode saber se o outro enxerga? Recuperando sua própria visão não? Sendo assim, o primeiro passo é iluminar-se, encontrar sua própria luz . Enxergar as coisas como elas são. Só então o indivíduo se torna capaz de perceber quem é Iluminado ou não. E então concluirá que essa questão não é assim, lá, tão importante!
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