Quem sou eu

domingo, 5 de outubro de 2008

Mestres


A idéia dos Mestres, os Irmãos Primogênitos da Humanidade, sempre faz um frêmito perpassar o coração humano, e todas as informações a seu respeito são ávida e alegremente recebidas. A idéia de haver algo ilógico na concepção a respeito destes grandes Seres, destes Homens Perfeitos, já desapareceu no ocidente como se jamais houvesse existido. Agora está sendo percebido que a existência destes Seres é natural e que, dada a evolução, estes mais elevados frutos da evolução são uma necessidade natural. Muitos estão começando a ver nas grandes figuras do passado as evidências de que tais Homens existem, e como a razão os reconhece no passado, surge a esperança de encontrá-los no presente.
Mais: há um crescente número de pessoas entre nós, tanto no oriente como no ocidente, que tem conseguido encontrar os Mestres, e desapareceu para sempre destas mentes, portanto, a dúvida sobre Sua existência. O Caminho para eles está aberto, e aqueles que procuram, encontram.
Possa este livreto despertar alguns para a busca destes grandes Instrutores. Eu, que os conheço, não posso fazer serviço maior aos meus irmãos do que inspirá-los a começar uma busca que lhes dará uma recompensa além de toda descrição.
Annie Besant
O HOMEM PERFEITO
O Homem Perfeito: Um Elo na Cadeia da Evolução
Há um estágio na evolução humana que imediatamente precede a meta do esforço humano, e quando este estágio é ultrapassado o homem, como homem, já não tem mais nada a completar. Ele se tornou perfeito, sua carreira humana terminou. As grandes religiões dão a este Homem Perfeito muitos nomes, mas, quaisquer que sejam, por trás estão à mesma idéia; ele é Mitra, Osíris, Krishna, Buda, Cristo - mas ele simboliza sempre o Homem tornado perfeito. Ele não pertence exclusivamente a uma única religião, a uma só nação, a uma única família humana; ele não é tolhido por laços com uma única fé; em qualquer parte ele é o mais nobre, o mais perfeito ideal. Todas as religiões o proclamam, todos os credos têm nele a sua justificação, ele é o ideal em cuja direção se esforça toda a fé, e toda religião cumpre eficazmente sua missão de acordo com a clareza com que ilumina e a exatidão com que ensina o caminho por onde ele pode ser alcançado. O nome de Cristo, usado para designar o Homem Perfeito em toda a Cristandade, é o nome de uma condição, mais do que o nome de uma pessoa: "Cristo em vós, a esperança de glória", este é o pensamento do instrutor Cristão. Os homens, no longo curso da evolução, atingem o estado Crístico, pois todos a seu tempo completam a secular peregrinação, e aquela pessoa a quem este nome está particularmente ligado no ocidente é um dos "Filhos de Deus" que atingiram a meta derradeira da humanidade. A palavra sempre teve uma conotação de condição; significa "o ungido". Todos devem atingir este estado: "Olha dentro de ti: tu és Buda", ou "Até que Cristo seja formado em vós".
Assim como aquele que deseja se tornar um músico deve ouvir as obras-primas da música, deve penetrar nas melodias dos mestres-artistas, nós devemos, como filhos da humanidade, elevar nossos olhos e corações, em sempre renovada contemplação, aos altos cumes em que estão os Homens Perfeitos da nossa raça. O que somos hoje eles já foram, o que eles são, nós um dia seremos. Todos os filhos dos homens podem fazer o que um Filho do Homem completou, e nele vemos uma promessa de nosso próprio triunfo; o desenvolvimento de tal divindade em nós é apenas uma questão de evolução.
Imperativos: Externos e Internos
Tenho ocasionalmente dividido a evolução interna em submoral, moral e supermoral; submoral quando as distinções entre certo e errado não são percebidas e o homem segue seus desejos sem questionamentos, sem escrúpulos; moral, quando se percebe o certo e o errado, e eles se tornam mais definidos e inclusivos, e procura-se obedecer à lei; supermoral, onde a lei externa é transcendida, pois a natureza divina governa seus veículos. Na condição moral a lei é reconhecida como uma barreira legítima, uma restrição salutar; "faça isso", "evite aquilo", e o homem luta para obedecer, e há um combate constante entre as naturezas superior e inferior. No estado supermoral a vida divina no homem encontra expressão natural sem ordens externas; ele ama, não porque deve amar, mas porque ele é amor. Ele age, para citarmos as nobres palavras de um Iniciado Cristão, "não pela lei de um imperativo carnal, mas através do poder de uma vida sem fim". A moralidade é transcendida quando todos os poderes do homem se voltam para o Bem como a agulha magnetizada se volta para o norte; quando a divindade no homem procura sempre o melhor para todos. Já não há mais combate, pois a vitória foi ganha; o Cristo atinge sua plena estatura só quando se torna um Cristo triunfante, Mestre sobre a vida e sobre a morte.
A Primeira Iniciação
Este estágio da vida Crística, da vida Búdica, é penetrado na primeira das grandes Iniciações, onde o Iniciado é chamado de "a criancinha", às vezes, de "bebê", às vezes de "a criancinha de três anos". O homem deve recuperar "a condição infantil que perdeu"; ele deve "se tornar uma criancinha" a fim de "entrar no Reino". Ultrapassando este portal ele nasce na vida Crística e, trilhando "o caminho da Cruz", ele passa pelos sucessivos portais da Senda; no fim ele é definitivamente liberado da vida de limitações, de cadeias, ele morre para o tempo para viver na eternidade, e se torna mais consciente de si como vida do que como forma.
Não há dúvida que no Cristianismo primitivo este estágio de evolução era definidamente reconhecido como estando diante de todo indivíduo Cristão. A ansiedade expressa por São Paulo de que Cristo pudesse nascer em seus conversos dá um testemunho suficiente disso, deixando-se de lado outras passagens que poderiam ser citadas; mesmo se existisse apenas este versículo ele seria suficiente para demonstrar que no Cristão ideal o estágio de Cristo era considerado uma condição interna, o período final de evolução de todo crente. E é bom que os Cristãos reconheçam isso e não considerem a vida do discípulo, culminando no Homem Perfeito, como um exotismo, introduzido no solo ocidental mas nativo só de terras orientais. Este ideal é parte de todo Cristianismo verdadeiro e espiritual, e o nascimento do Cristo em cada alma Cristã é o objetivo do ensinamento Cristão. O verdadeiro objetivo da religião é conseguir este nascimento, e se este ensinamento místico escapasse da Cristandade esta fé já não poderia elevar à divindade os que a praticam.
A primeira das grandes Iniciações é o nascimento do Cristo, do Buda, na consciência humana, é a transcendência da consciência do eu, é a queda das limitações. Como é sabido por todos os estudantes, há quatro degraus de desenvolvimento abrangidos pelo estado de Cristo, entre o homem completamente bom e o Mestre triunfante. Cada um destes degraus é galgado através de uma Iniciação, e ao longo destes degraus de evolução a consciência se expandirá, crescerá, atingirá os limites possíveis dentro das limitações impostas pelo corpo humano. No primeiro deles a mudança experimentada é o despertar da consciência no mundo espiritual, no mundo em que a consciência se identifica com a vida, e deixa de se identificar com as formas em que a vida possa estar aprisionada naquele momento. A característica deste despertar é a sensação de uma súbita expansão, de uma ampliação além dos limites habituais da vida; é o reconhecimento de um Eu divino e possante que é vida, e não forma; é alegria, e não tristeza; é o sentimento de uma paz maravilhosa, ultrapassando tudo o que o mundo possa sonhar. Com a queda das limitações vem uma aumentada intensidade de vida, como se a vida fluísse de todos os lados rejubilando com a remoção das barreiras; um sentimento tão vívido de realidade que toda vida dentro de uma forma parece morte, e a luz terrena parece treva. Esta expansão é tão maravilhosa em sua natureza que a consciência sente como se jamais tivesse conhecido a si mesma antes, pois tudo o que era considerado consciência é uma inconsciência em presença desta vida superior. A autoconsciência, que começou a germinar na humanidade infante, que se desenvolveu, cresceu e se expandiu sempre dentro dos limites da forma, pensando-se separada, sentindo sempre o "eu", falando de "mim" e "meu" - esta autoconsciência subitamente sente todos os eus como sendo Eu, todas as formas como sendo uma propriedade coletiva. Ela vê que estas limitações foram necessárias para a construção de um centro de auto-identidade que pudesse persistir, e ao mesmo tempo ela sente que a forma é só um instrumento que ela usa enquanto ela mesma, a consciência viva, é una com tudo o que vive. Ela reconhece o significado pleno da expressão muito citada "unidade da humanidade", e sente o que é viver em tudo o que vive e se move, e esta consciência é acompanhada de imensa alegria, aquela alegria de viver que mesmo em seus pálidos reflexos sobre a Terra é um dos mais exaltados êxtases conhecidos pelo homem. A unidade é vista não só pelo intelecto, mas é sentida como satisfazendo o anelo por união que conhecem todos os que amaram; é uma unidade sentida a partir de dentro, e não vista de fora; não é uma concepção, mas uma vida.
O nascimento de Cristo no homem foi representado em muitas páginas antigas, mas sempre nas mesmas linhas. Mesmo assim, como todas as palavras designadas para o mundo das formas falham em descrever o mundo da vida!
Mas a criança deve crescer até se tornar um homem perfeito, e há muito a fazer, muitas fadigas a enfrentar, muitos sofrimentos a suportar, muitas lutas a travar, muitos obstáculos a superar, antes que o Cristo nascido na fragilidade de sua infância atinja a estatura de um Homem Perfeito. Há a vida de trabalho entre seus irmãos; há o enfrentamento do ridículo e da suspeita; há a proclamação de uma mensagem desprezada; há a agonia do abandono, e a paixão da cruz, e a treva do túmulo. Tudo isto está à sua frente no caminho em que entrou.
Por uma prática contínua o discípulo deve aprender a assimilar a consciência dos outros e centrar sua própria consciência na vida e não na forma, a fim de que ele possa passar além da "heresia da separatividade" que o faz considerar os outros diferentes de si mesmo. Ele tem de expandir sua consciência por uma prática diária, até que seu estado habitual seja aquele que ele experimentou temporariamente na sua primeira Iniciação. Para isso ele tentará identificar, em sua vida cotidiana, sua consciência com a consciência daqueles com quem entrar em contato dia após dia; ele tentará sentir como eles sentem, pensar como eles pensam, alegrar-se como eles se alegram, sofrer como eles sofrem. Gradualmente ele deve desenvolver uma simpatia perfeita, uma simpatia que pode vibrar em harmonia com cada corda da lira humana. Gradualmente ele deve aprender a responder, como se fosse dele mesmo, a toda sensação alheia, sendo ela elevada ou baixa. Gradualmente, por prática constante, ele deve se identificar com os outros em todas as variadas circunstâncias de suas diferentes vidas. Ele deve aprender a lição da alegria e a lição das lágrimas, e isso só é possível quando ele tiver transcendido o eu separado, quando ele já não pedir nada para si, mas entender que daí em diante deve viver somente na vida.
Sua primeira dura luta é deixar de lado tudo o que até então considerou como vida, consciência, realidade, e andar para frente sozinho, nu, já não se identificando com nenhuma forma. Ele tem de aprender a lei da vida, através da qual, somente, a vida divina pode se manifestar, a lei que é a antítese de seu passado. A lei da forma é tomar, a lei da vida é dar. A vida cresce através de derramar-se através das formas, alimentada pela inexaurível fonte de vida no coração do universo; quanto mais a vida derrama a si mesma para fora maior o influxo interno. De início parece ao jovem Cristo como se toda sua vida o estivesse abandonando, como se suas mãos estivessem se esvaziando após derramar seus dons para um mundo ingrato; mas só quando a natureza inferior for definitivamente sacrificada é que se experimenta a vida eterna, e aquilo que foi sentido como ser a morte do ser é descoberto constituir o nascimento em uma vida mais plena.
A Segunda Iniciação
Assim a consciência se desenvolve, até ultrapassar o primeiro estágio da Senda, e o discípulo vê diante de si o segundo Portal da Iniciação, simbolizado nas escrituras Cristãs como o Batismo de Cristo. Aqui ele desce às águas das tristezas do mundo, ao rio em que devem ser batizado todos os Salvadores dos homens, e uma nova efusão de vida divina é derramada nele; sua consciência percebe a si mesma como o Filho, em quem a vida do Pai encontra expressão adequada. Ele sente a vida da Mônada, seu Pai no Céu, fluindo para sua consciência, e ele percebe que é uno não só com os homens, mas também com seu Pai celeste, e que ele vive na Terra apenas para ser uma expressão da vontade, o organismo manifesto, do Pai. Deste ponto em diante seu ministério aos homens se torna o fato mais relevante de sua vida. Ele é o Filho, a quem os homens devem dar ouvidos, pois dele flui a vida oculta, e ele se tornou um canal por onde esta vida oculta pode atingir o mundo exterior. Ele é o sacerdote do Deus Misterioso, é aquele que penetrou por trás do véu, e voltou com a glória fulgindo de sua face, glória que é um reflexo da luz do santuário.
Aqui é que inicia aquela obra de amor simbolizada no ministério externo pela sua prontidão em curar e aliviar; em seu redor se aglomeram as almas que buscam luz e vida, atraídas por sua força interior e pela vida divina manifesta no Filho do Pai reconhecido como tal. A ele acorrem as almas famintas, e ele lhes dá o pão; chegam as almas que sofrem da doença do pecado, e ele as cura com sua palavra viva; as almas cegas pela ignorância também se aproximam, e ele as ilumina com sua sabedoria. É um dos sinais característicos de um Cristo em seu ministério que os abandonados e degradados se aproximem dele sem sentirem qualquer separação. Eles sentem uma simpatia acolhedora e não repelente, pois de sua pessoa se irradia gentileza, e o amor compreensivo flui em seu redor. Na verdade eles não sabem que ele é um Cristo em evolução, mas sentem um poder que eleva, uma vida que vitaliza, e em sua atmosfera eles conhecem uma nova força, e uma nova esperança.
A Terceira Iniciação
O terceiro Portal se abre diante dele, para admití-lo a um outro estágio de seu progresso, e ele desfruta de um breve momento de paz, de glória, de iluminação, simbolizado, nos escritos Cristãos, pela Transfiguração. É uma pausa em sua vida, uma breve cessação do serviço ativo, uma jornada até a Montanha onde transpira a paz celeste, e ali - acompanhado por alguns que reconheceram sua divindade em evolução - esta divindade fulgura por um momento em sua beleza transcendente. Durante esta pausa no combate ele divisa seu futuro; uma série de imagens se desenrola diante de seus olhos; ele contempla os sofrimentos que o esperam, a solitude do Getsêmani, a agonia do Calvário. Após, ele volta sua face decididamente para Jerusalém, para a treva em que há de penetrar por amor à humanidade. Ele entende que antes de atingir a realização perfeita da unidade deve experimentar a quintessência da solidão. Antes, ele percebia a vida em crescimento como vinda de fora; agora ele deve perceber que seu centro está dentro de si mesmo; ele deve experimentar a verdadeira unidade entre Pai e Filho na solitude de seu coração, uma unidade interna e não externa, e então ele perde de vista até mesmo a face do Pai; e para isso devem ser cortados todos os contatos exteriores com os homens, e mesmo com Deus, para que dentro de seu próprio Espírito ele possa encontrar o UM.
A Noite Escura da Alma
À medida que se aproxima a hora tenebrosa, ele se torna mais e mais abatido com a dissolução de todas as simpatias humanas em que havia se acostumado a confiar durante sua vida de serviço passada, e quando, em sua hora de maior necessidade, olhando em torno em busca de conforto, e vendo seus amigos envoltos em um sono indiferente, parece-lhe que todos os laços humanos foram rompidos, que todo o amor humano não passa de um chiste, que toda a fé humana é uma traição; ele recua para dentro de si mesmo para aprender que só persiste o laço com seu Pai celeste, e que toda ajuda corporificada é inútil. Diz-se que nesta hora de solidão a alma se enche de amargura, e que raramente uma alma ultrapassa este abismo de vazio sem um grito de angústia; é então que ele reclama angustiado: "Não pudestes velar comigo por uma hora?" - mas nenhuma mão humana lhe poderia ser estendida neste Getsêmani de desolação.
Quando é superada esta treva do abandono humano, então, a despeito de ter renunciado completamente à natureza humana, chega a hora ainda mais negra, quando um outro abismo se abre entre o Pai e o Filho, entre a vida encarnada e a vida infinita. O Pai, que ainda era percebido no Getsêmani, quando todos os amigos humanos dormiam, também se oculta agora, na paixão da Cruz. É o mais cru de todos os ordálios do Iniciado, quando é perdida mesmo a consciência da vida como Filho, e a hora do esperado triunfo se torna a da mais profunda ignomínia. Ele vê seus inimigos exultantes à sua volta; ele vê a si mesmo abandonado por seus amigos e pelos que o amam; ele sente que o apoio divino é retirado de sob seus pés, e ele bebe até a última gota a taça da solidão, do isolamento, sem qualquer contato com homem ou com Deus para transpor o vazio em que pende sua alma desvalida. Então, do coração que sente-se deserdado até mesmo pelo Pai, se eleva o brado: "Deus meu, Deus meu! Por que Tu me abandonaste?" Por que esta última provação, este último ordálio, esta, a mais cruel das ilusões? É uma ilusão, pois o Cristo à beira da morte está mais perto do que nunca do Coração divino.
Porque o Filho deve conhecer a si mesmo como uno com o Pai que ele busca, deve encontrar Deus não só dentro de si, mas como sendo seu próprio e mais recôndito Eu; só quando ele reconhece que o Eterno é ele e que ele é o Eterno é que ele ultrapassa a possibilidade de sentir separação. Então, e só então, é que ele pode ajudar sua raça com perfeição, e se torna uma parte consciente da energia que eleva.
A Glória da Perfeição
O Cristo Triunfante, o Cristo da Ressurreição e da Ascensão, sentiu a amargura da morte, conheceu todo o sofrimento humano, e ascendeu por cima dele através do poder de sua própria divindade. O que poderia agora perturbar sua paz, ou impedir que sua mão auxiliadora se estenda? Durante sua evolução ele aprendeu a receber em si mesmo as correntes dos problemas humanos e devolvê-las como correntes de paz e alegria. Dentro do círculo de sua atividade de então este era seu trabalho: transmutar forças de discórdia em forças de harmonia. Agora ele deve fazer isso pelo mundo todo, por toda a humanidade de onde ele floresceu. Assim os Cristos e seus discípulos, cada qual na medida de sua evolução, protegem e ajudam o mundo, e muito mais difíceis seriam as lutas, muito mais desesperados seriam os combates da humanidade se não fosse a presença deles em seu meio, cujas mãos carregam "o pesado karma do mundo".
Mesmo aqueles que estão nos primeiros estágios da Senda se tornam forças elevadoras na evolução, como em verdade o são todos que trabalham altruisticamente pelos outros, embora aqueles o sejam mais deliberada e conscientemente. Mas o Cristo triunfante faz completamente o que os outros fazem com vários graus de imperfeição, e por isso ele é chamado de "Salvador", e nele esta característica é perfeita. Ele salva, não substituindo-nos por si mesmo, mas por compartilhar conosco sua vida. Ele é sábio, e todos os homens são tornados mais sábios por causa de sua sabedoria, pois a sua vida flui em todas as veias e pulsa em todos os corações dos homens. Ele não está atado a nenhuma forma, nem está separado de nenhuma delas. Ele é o Homem Ideal, o Homem Perfeito; cada ser humano é uma célula de seu corpo, e cada célula é nutrida por sua vida.
Por certo não teria valido a pena padecer na Cruz e trilhar a Senda que leva a ela simplesmente para obter um pouco antes sua própria libertação, para descansar um pouco mais cedo. O custo teria sido alto demais para um lucro tão pequeno, a luta teria sido árdua demais para um prêmio tão modesto. Não, pois em seu triunfo toda a humanidade se exalta, e a trilha palmilhada por todos os pés se torna um pouco mais curta. A evolução de toda a raça é acelerada, a peregrinação de todos é tornada menos longa. Este foi o pensamento que o inspirou durante a violência do combate, o que sustentou sua força, o que suavizou as dores das perdas. Nenhum ser, por mais fraco, degradado, ignorante ou pecador que seja, deixa de ficar um pouco mais perto da luz quando um Filho do Altíssimo termina sua jornada. Como será acelerada a velocidade da evolução à medida que mais e mais Filhos ascenderem triunfantes e entrarem na vida eterna conscientemente! Quão suavemente a roda que eleva o homem à divindade irá girar à medida que mais e mais homens se tornarem conscientemente divinos!
O Ideal Inspirador
Eis aqui então o estímulo para cada um de nós que, em nossos momentos mais nobres, sentimos o atrativo da vida derramada por amor aos homens. Pensemos nos sofrimentos do mundo que não sabe por que sofre; pensemos na miséria, no desespero dos homens que não sabem por que vivem, nem por que morrem; naqueles que dia após dia, ano após ano, vêem sofrimentos cair sobre si mesmos e sobre os outros e não entendem seu motivo; naqueles que lutam com coragem desesperada, ou naqueles que se revoltam furiosamente contra condições que não conseguem compreender ou justificar. Pensemos na agonia que nasce da ignorância, na escuridão em que tateiam, sem esperança nem aspiração, sem conhecimento da vida real e da beleza que existe por trás do véu. Pensemos nos milhões de irmãos nas trevas, e então nas energias elevadoras que nascem dos nossos sofrimentos, nossas lutas e nossos sacrifícios. Podemos elevá-los um pouco mais em direção à luz, aliviar suas penas, diminuir sua ignorância, abreviar suas jornadas em direção ao conhecimento que é luz e vida. Quem dentre nós, que conhecemos um pouco que seja, não dará a si mesmo por aqueles que não sabem nada?
Sabemos, pela Lei imutável, pela Verdade inabalável, pela Vida e Deus eternos, que toda divindade está dentro de nós, e que embora ela esteja ainda pouco desenvolvida, possui toda a infinita capacidade disponível para elevar o mundo. Assim com certeza não haverá ninguém que, sendo capaz de sentir a pulsação da Vida Única, não seja atraído pela esperança de ajudar e abençoar. E se esta Vida for sentida, fracamente que seja, mesmo que só por um breve instante, isso acontece porque no coração tremeu o primeiro impulso daquilo que se desenvolverá na vida Crística, porque se aproxima o tempo do nascimento do Cristo infante, porque nesta pessoa a humanidade está procurando florescer.
***
OS MESTRES COMO FATOS E COMO IDEAIS
[Palestra proferida em Londres, em 1895]
O Testemunho das Religiões
"Os Mestres como Fatos e como Ideais" - escolhi o título duplo porque há alguns que não os reconhecem como fatos, embora como ideal lhes sejam valiosos, preciosos e inspiradores. Nem todos os membros da Sociedade Teosófica acreditam nos Mahatmas. Dentro da Sociedade há muitos que não têm conhecimento do assunto nem acreditam nele, e é regra em nossa Sociedade não solicitarmos nenhuma profissão de fé de ninguém que se associe, exceto que professe a crença na Fraternidade do homem, ignorando as distinções que se apresentam superficialmente. Desta forma, dentro do âmbito da Sociedade, podemos ter quem creia e quem não creia na existência atual ou passada destes grandes Instrutores. Mas eu, que acredito neles, e sei que existem, falo aqui não em nome da Sociedade, a qual não possui um credo, mas em meu próprio nome e no de outros que compartilham esta crença ou este conhecimento comigo mesma, e o que estou prestes a lhes apresentar são o que eu acredito serem evidências racionais dignas de consideração - evidências sobre as quais vocês podem meditar à vontade e decidir por si mesmos; e falo ainda em nome do ideal, pois os ideais da raça são preciosos, e não podem ser levianamente ultrajados ou negados. Pois grande é este ideal representado pelo Mahatma, a despeito do ridículo por que tem passado - pois este nome é a mera forma sânscrita para significar "Grande Espírito".
Não há uma única grande religião que tenha só ela despertado e elevado as mentes dos homens, não há uma única grande fé que tenha só ela conduzido milhões a um conhecimento da vida espiritual e das possibilidades de crescimento humano, não há uma única que não tenha fundamentado sua crença sobre um Homem Divino, não existe nem uma que não olhe para trás em direção ao seu Fundador, para uma destas grandes Almas que trouxeram o conhecimento da verdade espiritual para o mundo. Olhem para o passado à vontade, escolham a fé que quiserem. Todas foram fundadas sobre este mesmo ideal, e olham para trás para seu Mestre como para um Homem cuja vida é divina. Em torno deste ideal se reúnem todas as esperanças dos homens, em torno deste ideal se reúnem os futuros destinos da humanidade. Pois a menos que o homem seja um Ser espiritual, a menos que ele tenha em si mesmo a possibilidade de desenvolvimento espiritual, a menos que haja alguma evidência disponível de que alguns homens já se tornaram perfeitos, que isso não é só um sonho para o futuro, mas uma realidade que a raça já realizou, a menos que seja verdade que para vocês e para mim estejam abertas as mesmas grandiosas possibilidades que se provaram possíveis no passado por aqueles que as atingiram, então as esperanças dos homens se baseiam em fundamentos inexistentes, os anelos humanos por perfeição não têm em si nenhuma certeza de realização, a humanidade permanece apenas como uma coisa efêmera, em vez de ser herdeira de uma imortalidade ilimitada. A idéia de que o homem pode se tornar divino tem inspirado os maiores de nossa raça, tem acalentado os miseráveis em sua agonia, e glorificado o futuro com esperança. Por isso defendo o ideal. Pois quem é o Mahatma? É o homem que se tornou perfeito, é o homem que atingiu a união com o Divino, é o homem que em lentas etapas desenvolveu as possibilidades da natureza espiritual, e paira triunfante onde nós hoje lutamos. Todas as religiões o testemunham. Todas as religiões do mundo olham para trás em direção a um Instrutor Divino. Na Pérsia podemos ter o nome de Zoroastro, na Índia o de Krishna, mais tarde o de Buda, ou de Cristo na Palestina; todos e cada um deles é o Homem Divino, que trouxe a certeza da perfeição humana para aqueles que entraram sob sua influência.
Uma Teoria
Qual será a linha de nossa evidência? Primeiro sugiro uma teoria provável na linha da evolução natural. Depois proponho que passemos à evidência da existência destes Homens Divinos no passado, vindo de lá para a evidência de sua existência no presente; então - porque sem esta última parte nossa palestra deixaria de nos ser útil - mostrarei como é possível para os homens se tornarem perfeitos, pelo menos em um breve esboço dos métodos pelos quais um Homem Divino se torna tal.
Primeiro, então, falemos da teoria de que a existência dos Mestres é em si mesma provável e está de acordo com a analogia da natureza que vemos ao nosso redor, e com o que sabemos do passado. Provavelmente só poucos hoje em dia duvidarão do fato da evolução. Poucos negarão que nossa raça progride, e que ciclo após ciclo encontramos nações avançando e atingindo mais e mais altos pináculos em conhecimento, mais e mais altos pináculos em crescimento e desenvolvimento. Teoricamente não há nada de impossível ou absurdo na teoria de que, levando em consideração os vastos períodos de tempos que se passaram desde que o homem caminhou sobre esta Terra pela primeira vez, levando em consideração as enormes diferenças entre os homens primitivos e os altamente civilizados, e os vastos períodos de tempo de evolução que jazem atrás de nós, pelo menos não é irracional ou absurdo que a evolução tenha se adiantado até um ponto, no caso de alguns indivíduos, muito acima da evolução do homem civilizado de hoje.
Isso tampouco é tudo. Não é só que temos atrás de nós períodos enormes de tempo, mas que existem vestígios de grandes civilizações que demonstram que a raça se elevou alto em conhecimento, alto em filosofia, alto em ciência e em religião, centenas de milhares de anos atrás, ou melhor, eu poderia dizer mesmo milhares de milhares de anos atrás. Pois olhando para trás encontramos traços de grandiosas civilizações, que implicam a presença de homens do tipo mais avançado, e seria bem pouco racional supormos que a tão falada evolução tenha sido nada mais que fluxo e refluxo, não deixando nada como resultado, nada mais que períodos sucessivos de alta civilização e depois de completo barbarismo, recomeçando a civilização sem nenhum elo que preservasse a continuidade do conhecimento. Pelo menos não é impossível, e logo veremos sinais de que é provável, que neste grandioso passado alguns cresceram mais, avançaram mais e mais alto, e aperfeiçoaram a raça em casos individuais, do mesmo modo que todos a seu tempo se tornarão perfeitos. Não é impossível, nem mesmo improvável, lembrando que a lei da natureza é progresso, e dos vastos períodos de tempo em que a humanidade já viveu.
A Evidência Histórica
Mas desta mera possibilidade - que sugeri como tal porque é bom limparmos desde logo o caminho da idéia de que a teoria em si é impossível e absurda - tomemos a evidência histórica, e vejamos se a história de tempos em tempos não mostra algumas figuras humanas gigantescas que permanecem acima e além dos homens de seu tempo e do nível comum da humanidade; se não há evidência irrefutável de que tais Homens não sejam meramente o produto da imaginação popular, que não sejam meramente homens comuns do passado, exagerados pela tradição popular e vistos como que magnificados através da bruma dos séculos. Falo daqueles Grandes Seres a quem citei como sendo os Fundadores das grandes religiões do mundo.
Não é apenas que há uma tradição ininterrupta, e que ainda existem as religiões que estes Homens fundaram, mas há mais que tradição, mais de uma religião cresceu; há uma literatura, estabelecida, definida e característica, cuja antigüidade nenhum erudito nega, embora alguns possam reivindicar para ela uma antigüidade maior do que outros possam estar prontos para admitir. Tomemos as últimas datas que foram fornecidas pelos grandes orientalistas que estudaram as literaturas da China, da Pérsia, da Índia, para não falarmos dos tempos mais modernos. Certos livros são considerados sagrados, livros cujas religiões lhes atribuem uma antigüidade imemorial. Entre os chineses temos seus livros sagrados; eles existem também entre os Parses, seguidores de Zoroastro. Na Índia temos os Vedas, os Upanishads, para não falarmos das obras mais recentes, e eu poderia, sem haver margem para questionamentos, lhes dar uma longa lista de grandes obras que são tomadas como Escrituras pelos crentes destas religiões.
Quem escreveu estes livros, e de onde veio o conhecimento? Que eles existem é coisa óbvia. Que eles devem ter autores também é algo que dificilmente pode ser negado. Porém estes trabalhos de imensa antigüidade apresentam uma profundidade de conhecimento espiritual, uma profundidade de pensamento filosófico, uma visão tão penetrante da natureza humana, e uma profundeza de ensinamento moral tão magníficas, que as maiores mentes de hoje em dia, tanto nas áreas da moral como da filosofia, devem admitir que o mundo moderno não pode apresentar nada que sequer se lhes aproxime em sublimidade.
Não é uma questão de tradição, mas de livros reais; não é uma questão de teoria, mas de fatos; pois se os livros são tão grandiosos, a moralidade é tão pura, a filosofia é tão sublime e o conhecimento tão vasto, seus autores devem ter tido o conhecimento que encontramos incorporado nas obras. E o testemunho de milhões e milhões de seres humanos fala pela realidade da verdade espiritual, e mesmo nações inteiras são guiadas pelos ensinamentos que nos chegaram desta forma. Isso tampouco é tudo. Em todas as partes em que encontramos estes ensinamentos eles se revelam semelhantes. O mesmo ensinamento sobre a unidade da Vida Divina de onde nasceu o universo; o mesmo ensinamento sobre a identidade do Espírito no homem com o Espírito de onde veio o universo; os mesmos ensinamentos de que o homem pode, através de certos métodos, desenvolver a vida Espiritual em si mesmo e vir a ter um conhecimento positivo da divindade, e não só esperança e fé.
Pelo menos temos, vindo de tempos remotos, este fato que não pode ser negado: que alguns Homens viveram no longínquo passado, cujo pensamento foi grande, a moralidade, pura, e a filosofia sublime o bastante para perdurarem além da queda das civilizações e sobreviverem à força destrutiva do tempo. Hoje em dia os orientalistas estão traduzindo, para ensinamento do mundo moderno, aquilo que os grandes Homens do passado uma vez ensinaram, e têm encontrado nestas Escrituras os maiores pensamentos que a raça humana já produziu desde os tempos mais remotos.
Não se pode negar o fato de que alguns viveram de modo muito mais grandioso que nós, alguns possuíram um conhecimento muito além daquele que possuímos, e que nós mesmos ainda aprendemos filosofia e assuntos espirituais destes Mestres que falaram há milhares de anos atrás. A primeira linha de argumentação é que houve Homens Divinos no passado, a quem chamamos de Mahatmas, e que eles deixaram testemunho de sua existência em sua grandiosa e sublime literatura - estabelecendo a prova de que tais Homens existiram e ensinaram no passado, e que com seu ensinamento guiaram e ajudaram milhões de pessoas. Pelo menos podemos falar com certeza, tendo uma base sólida sob nossos pés, que o ensinamento de todos eles em suas linhas principais é idêntico, é idêntico em sua força moral, e que as verdades espirituais que eles enunciaram chegaram a nós intactas através dos séculos.
As declarações nesta literatura apelam para a experiência humana. Elas não dizem apenas que certas coisas existem, mas dizem que elas podem ser conhecidas. Não apenas declaram a realidade da alma, mas dizem que esta realidade pode ser provada, de modo que este ensinamento permanece, e proclama certos fatos supostos que continuam sendo tão verificáveis como sempre o têm sido, possibilitando assim um acúmulo contínuo de provas sobre a realidade do conhecimento daqueles que primeiro deram estas declarações ao mundo.
Experiência de Primeira Mão
Passemos deste para o próximo ponto no argumento - que estas declarações foram verificadas pela experiência e ainda são verificadas hoje em dia. Tomemos por exemplo um país como a Índia. Ali temos uma tradição ininterrupta que chega até nossos dias, uma tradição de que sempre existiram Mestres que eles podem ser encontrados, Mestres que possuem o conhecimento que é sugerido nos livros de que falo, que podem acrescentar o ensino prático ao preceito teórico, e capacitam as pessoas a verificarem por experiência própria aquilo que é declarado como verdade na literatura a que aludi. Perguntem a qualquer indiano de hoje qual é sua crença nesta questão, e ele lhes dirá, se não tiver sido ocidentalizado, e vocês podem obter sua confiança, de que sempre neste país tem havido a crença de que estes Homens existiram no passado e não deixaram de existir no presente; que eles se retiraram mais e mais dos assuntos comuns das pessoas, que eles se tornaram cada vez mais difíceis de encontrar porque a materialidade triunfa e a espiritualidade vem decaindo; mas que eles ainda podem ocasionalmente ser encontrados, e que os primeiros estágios da Senda ainda estão abertos.
E não só esta crença existe ali, mas poderemos encontrar espalhados pela Índia muitos e muitos homens que, embora não tendo atingido o nível de Mahatma, conseguiram subir alguns degraus acima do plano físico, e desenvolveram em si mesmos poderes e capacidades que o ocidental comum consideraria de obtenção absolutamente impossível. Não falo dos Mahatmas, mas das centenas dos assim chamados yogis espalhados pelas florestas e montanhas da Índia, alguns dos quais habitualmente exercem notáveis poderes - poderes que aqui pareceriam incríveis, mas a cujo respeito existe o testemunho continuamente acumulado das narrativas dos viajantes que coletam e registram os fatos com que entraram em contato pessoalmente. Pois os primeiros estágios de desenvolvimento do homem interno não são de atingimento excessivamente difícil, e num país como a Índia, onde não existe a barreira do ceticismo a ser vencida, pois ali esta crença tem existido ao longo de milhares de anos, podemos encontrar muitos homens que exercem os poderes psíquicos inferiores, e uns poucos que foram bem além deste estágio e exercem ainda as faculdades psíquicas superiores, ou os poderes realmente espirituais do homem.
E podemos encontrar alguns que têm experiência própria, que têm conhecimento pessoal dos Instrutores, dos Mestres que treinam seus discípulos na senda superior da chamada Raja Yoga, ou Yoga Régio, isto é, o Yoga que treina principalmente a mente antes do que o corpo, que trabalha pela concentração da mente, pela meditação e pelo desenvolvimento das faculdades mentais superiores, a cujo respeito existe tanta discussão aqui, e que por um sistema definido de treinamento estes discípulos são capazes de usar conscientemente poderes mentais que capacitam seu possuidor ir além das limitações físicas e sair do corpo para receber instrução, a qual ele então é capaz de trazer de volta à consciência inferior e imprimí-la no cérebro físico, provado por sua própria experiência a realidade do ensinamento, e provando a existência de seu Mestre pelo conhecimento obtido dele.
Esta então seria a outra linha de evidências disponíveis. Vocês podem argumentar, com razão, que elas não são disponíveis para todos. Mas então vocês são por certo obrigados a lembrar, como homens e mulheres razoáveis, que se vocês desejam conhecimento devem buscá-lo onde ele se encontra, e que é absurdo que algumas pessoas que jamais investigaram, que jamais viajaram, escrevam a respeito de coisas de que não possuem qualquer conhecimento, como o seria se algum indiano comum que jamais teve o menor contato com os experimentos da ciência ocidental, digamos aqueles realizados pela Royal Society, sentasse e declarasse que eles são absolutamente impossíveis e ridículos, só porque ele mesmo não viajou para cá e não teve a oportunidade de vê-los realizados. Devemos lidar com as evidências em linhas racionais; e se vocês não podem entrar pessoalmente em contato com certos fatos, com certas fases da vida humana, devem por isso mesmo continuar ignorantes - e então cabe-lhes ficar em silêncio - ou aceitar o testemunho daqueles que investigaram cuidadosamente e deixaram o resultado de suas investigações diante de vocês.
Como Podemos Encontrar os Mestres?
E isso me conduz à minha próxima linha de argumento. Suponhamos que tais Homens existiram no passado, suponhamos que admitamos, como toda religião o faz em relação ao seu Fundador - embora possa negá-lo em relação aos Fundadores de outras religiões - que Homens Divinos realmente viveram no passado, suponhamos que, acreditando na imortalidade do Espírito, admitamos que eles devem existir ainda em algum lugar, se é que uma vez existiram de alguma forma, e então a próxima pergunta seria: Estes Homens do passado realmente existem hoje em dia? Podem ser alcançados? Podem ser conhecidos? Existem outros que atingiram o mesmo nível, cuja existência pode ser apoiada por evidência que seja pelo menos digna de consideração? Eles ainda existem?
Aqui estou entrando em uma linha de pensamento que devo adotar se eu quiser tentar provar-lhes a existência de qualquer pessoa vivendo em qualquer país que ainda não visitamos, vivendo em condições que não experimentamos nós mesmos. Que isso possa ser demonstrado cabalmente em todos os casos admito que é coisa impossível. Não posso lhes demonstrar, por exemplo, a existência do Conde Tolstoi [esta palestra foi realizada enquanto o escritor ainda vivia]. Se não viajarmos até a Rússia, se ele por acaso não vier para cá, e não suceder de o encontrarmos, não posso lhes demonstrar irrefutavelmente que ele existe. Mas eu poderia trazer evidências que convenceriam qualquer pessoa razoável, poderia mostrar evidências que seriam admitidas em qualquer tribunal de justiça, poderia lhes mostrar que não há razão para negarmos sua existência meramente porque nós mesmos não o encontramos pessoalmente, obtendo neste caso o que se chama de prova ocular de sua existência.
Helena P. Blavatsky
Mas qual é a prova da existência de Homens Divinos ou Perfeitos vivendo hoje em dia, alcançáveis sob certas condições? Que evidência posso lhes apresentar? Provavelmente haverá muitos de vocês que rejeitarão minha primeira testemunha, mas não é por causa disso que deixarei de invocá-la: falo de Helena P. Blavatsky. Estou a par dos ataques que ela tem sofrido de todos os lados. Em face deles, tendo-os analisado, e analisado cuidadosamente, digo que continua a haver evidência suficiente por seu intermédio, intocada pelos ataques, suficiente para ser-lhes apresentada para consideração, e suficiente para obter aceitação de parte de pessoas racionais. Tomemos por um momento, se quisermos - embora eu a vá repudiar - algumas das piores acusações: que ela não teve contato nenhum com os Mahatmas, que elas os inventou, que eles não existem fora de sua imaginação, e que tudo o que ela disse era falso, tudo o que ela disse e fez era com intenção de enganar. Mesmo assim temos de lidar com os fatos de sua vida, e com os fatos que seus livros representam.
"A Doutrina Secreta"
Temos de lidar com o livro chamado A Doutrina Secreta, e se vocês querem entendê-lo devem lê-lo antes de descartá-lo, devem estudá-lo antes de zombar dele. Madame Blavatsky tem sido acusada de plágio, que ela copiou daqui, dali e de muitos outros livros. Mas o que temos de considerar é o seguinte: ela jamais reivindicou que havia ela mesma descoberto o conhecimento que transmitiu ao mundo; ela sempre sustentou que este conhecimento provém de um passado imemorial, e é encontrado em todas as Escrituras, em todas as filosofias, e a própria finalidade deste livro é citar de várias fontes, das Escrituras de todas as religiões, dos escritos de todos os povos, a fim de evidenciar a identidade entre os ensinamentos e provar a antigüidade da doutrina.
O que é novo neste livro não são os fatos que encontraremos ali. O que é novo neste livro não é o que já foi descoberto pelos orientalistas, e pode ser apontado em um ou outro livro sagrado do mundo. O que é novo é o conhecimento que a capacitou selecionar todos estes fatos para construir uma concepção grandiosa e unificada sobre a evolução do universo e a evolução do homem, e uma síntese coerente de toda a cosmogonia. E cabe-lhe o título de maior Instrutora de nossa época, porque ela tinha conhecimento real e não mero palavrório livresco, um conhecimento que a capacitou recolher dentre livros dispersos as verdades que organizadas juntas poderiam construir um todo grandioso; porque ela tinha a chave com que podia seguir com precisão infalível por entre a infindável confusão e mostrar que todo o material disperso continha em si a possibilidade da construção unificada. E sua obra é mais maravilhosa porque ela a realizou sem ser uma acadêmica; porque ela a realizou sem nunca ter tido a educação que a teria capacitado, em alguma extensão, para organizar todas as partes do conhecimento; porque ela fez o que nenhum orientalista conseguiu apesar de todo seu saber; o que nem todos os orientalistas juntos fizeram com toda a ajuda do seu conhecimento das línguas orientais e seu estudo das literaturas orientais. Não houve nenhum dentre todos eles que conseguiu formar esta poderosa síntese a partir daquela massa confusa; nem um deles foi capaz de construir um cosmo a partir daquele caos. Mas esta mulher russa, que não era erudita, e nunca pretendeu ser, de uma forma ou outra obteve um conhecimento que lhe possibilitou fazer o que nenhum de nossos eruditos pôde fazer, de uma forma ou outra ela recebeu uma instrução que a capacitou a reduzir este caos a uma ordem e produzir um grandioso esquema sobre a evolução que nos permite compreender o universo e o homem. Ela disse que isso não era dela, ela jamais reivindicou tê-lo originado; ela estava sempre falando de sua própria falta de conhecimento e se referindo àqueles que a haviam ensinado.
Mas o fato que devemos enfrentar é que o conhecimento está ali, e ali permanece para ser analisado. Ninguém mais fez o que ela fez, embora os mesmos materiais que ela usou estejam disponíveis para todo o mundo. E minha resposta é: Apresentem-nos então alguém que possa fazer o que ela fez. Tenhamos mais plágios como este, que é capaz de reunir de tantas fontes o que fosse necessário para construir uma grande filosofia. Que nossos eruditos façam o mesmo, que nos ajudem a entender as religiões do mundo como ela ajudou. Que eles demonstrem a identidade, que eles apresentem a realidade, e então poderemos talvez começar a revisar nossa opinião a respeito dela; Mas antes disso acontecer sua palavra permanece inabalada, mesmo que se possa vir a provar que ela errou em muitos pontos, e mesmo que possam lhe jogar pedras aqueles que jamais conseguirão rivalizar com ela em altruísmo, auto-sacrifício e conhecimento.
O motivo pelo qual ninguém conseguirá nos abalar em nossa fé nela é porque ela nos ajudou a conhecer, porque através de seus ensinamentos obtivemos os que ninguém mais nos deu, porque ela nos abriu um caminho para obtermos mais conhecimentos ao longo das mesmas linhas e a partir dos mesmos Mestres que a ensinaram. Este é o motivo pelo qual permanecemos sendo tolos na opinião de muitos, ao abraçarmos sua causa e sua memória, pois temos para com ela uma dívida de gratidão que jamais poderemos pagar, e nenhuma pedra será jogada sobre sua tumba que eu não tente retirar, em nome do conhecimento ao qual ela me conduziu e dos benefícios inestimáveis que ela me concedeu através do ensino em que me introduziu.
Porém a evidência que lhes peço para aceitar dela não é a evidência dos fenômenos. Isso eu coloco de lado. Não é a evidência da erudição, coisa que ela nunca pretendeu ter. Não é uma questão de se sua vida foi uma perfeição desde a infância. É, sim, que ela tinha um conhecimento definido, obtido de alguma forma, e que não pode ser obtido numa educação comum; que ela o obteve em um espaço de tempo relativamente curto, e que assombrou seus familiares e amigos quando ela o demonstrou inicialmente, e que ela disse ter aprendido de certos Mestres, sendo crucial o fato de que ela possuía este conhecimento, não importando o modo como ela o obteve.
Esta é a evidência que desejo enfatizar, porque este é o ponto que não pode ser abalado e que retira seu testemunho de todo o âmbito da fraude de qualquer tipo; ele permanece acima e além disso. Permanece o fato deste conhecimento, corporificado em A Doutrina Secreta, a qual permanece como testemunha sua, e que, me arrisco a dizer, não pode ser descartada; e quanto mais sua pessoa é degradada, quanto mais sua figura é minimizada, mais é provada e exaltada a existência dos Grandes Seres que trabalharam através dela e lhe transmitiram o que ela produziu.
"A Voz do Silêncio"
Porém há um outro ponto a respeito de um outro livro seu, que para mim é especialmente interessante, um livro que vocês podem conhecer: A Voz do Silêncio; este livro aconteceu de ser escrito enquanto eu estava com ela em Fontainebleau. É um livro pequeno, e no que vou dizer falo só do livro em si: não vou falar das notas, que foram acrescentadas depois. O livro em si é o que poderíamos chamar de um poema em prosa em três partes. Ela o escreveu em Fontainebleau, e a maior parte dele foi escrita enquanto eu estava com ela e me encontrava na mesma sala em que ela o estava escrevendo. Sei que ela o escreveu sem consultar nenhum outro livro, mas o escreveu continuamente, hora após hora, exatamente como se o estivesse transcrevendo de memória ou lendo de um original invisível. Nesta noite ela produziu o manuscrito que eu vi sendo escrito enquanto estive com ela, e ela pediu a mim e a outros para corrigí-lo, pois dizia que o havia escrito tão rápido que estava certa de que o inglês estava péssimo. Porém não alteramos senão uma ou outra palavra, e ele permanece como um exemplo do mais maravilhosamente belo trabalho literário, suplantando todos os congêneres.
O livro, como eu disse, é um poema em prosa cheio de inspiração espiritual, cheio de alimento para o coração; estimulando as mais nobres virtudes e contendo os mais nobres ideais. Ele não é uma colcha de retalhos de várias procedências, mas um todo coerente e ético. Ele nos comove, não pela declaração de alguns fatos recolhidos de livros, mas por um apelo ao instinto mais divino de nossa natureza: é seu próprio e melhor testemunho sobre a fonte de onde ele procede.
Conhecimento Pessoal
Passemos agora da pessoa de Madame Blavatsky àqueles a quem ela ensinou. O Sr. A.P.Sinnett é um deles. Muitos outros que ela ensinou primeiro ainda vivem, aqui e ali, e passaram do treinamento com ela para o treinamento sob orientação de seus Mestres. E aqui temos um testemunho acumulado de homens e mulheres que, com sua própria autoridade, com evidência de primeira mão decorrente de sua experiência própria, atestam a existência destes Mestres e seu conhecimento pessoal deles, e o ensino que receberam pessoalmente deles.
O Sr. Sinnett aludiu a evidências, no seu caso pessoal, durante quase quinze anos. Muitos outros fizeram o mesmo, como a Condessa Wachtmeister, como o Coronel Olcott, como outros que deram seu próprio testemunho individual. Vocês vão dizer que todas estas pessoas são fraudes? Com que direito os condenam? Vão dizer que eles são todos uns tolos? Mas eles são homens e mulheres vivendo uma vida normal, homens e mulheres que são considerados, por aqueles que os conhecem, pessoas educadas, inteligentes, apresentando poderes de discriminação e conhecimento que outros também possuem. Vocês vão dizer que estão todos loucos? Esta é uma acusação bem dura para ser feita contra um número constantemente crescente de homens e mulheres aparentemente razoáveis. Que outro tipo de evidência exigirão para provar a existência de alguém, senão a evidência daqueles que conhecem este alguém, emanada de pessoas íntegras e honradas que vivem entre nós? Acrescentamos a estes o nosso próprio testemunho, não baseado em documentos, não baseado em escritos, não baseado simplesmente em cartas ou coisas do gênero, onde sempre existe a possibilidade de fraude, mas sim na comunhão individual com Mestres individuais e no ensinamento recebido que não poderia ser obtido de nenhuma outra forma. Este é o tipo de evidência com que vocês têm de lidar, e nenhum caso de fraude provada contra uma ou duas ou três pessoas derrubará o testemunho acumulado de homens e mulheres razoáveis que estão entrando em contato com estes Mestres, e que testemunham sobre o que eles conhecem pessoalmente. Este é o tipo de evidência que vocês devem encarar de frente, este é o tipo de evidência que vocês devem refutar. E por mais que vocês possam se divertir com escritos capciosos e finórios que tiram vantagem da fraude praticada por alguém a fim de desacreditar o todo, não se pode desacreditar esta massa de testemunhos através da comprovação de que uma única pessoa foi fraudulenta mais do que se pode questionar, digamos, a realidade da moeda real porque um falsário pode introduzir moedas falsas numa comunidade e porque as pessoas podem aceitar estas moedas momentaneamente e podem ser enganadas pensando que são verdadeiras.
Mas vocês podem dizer: queremos evidência de primeira mão por nós mesmos. Vocês podem tê-la, mas devem se mover em sua direção. Vocês podem ter evidências se amontoando para demonstração à sua frente se escolherem se dar a este trabalho, se escolherem despender o tempo necessário. Isso não é uma exigência descabida.
Se vocês querem verificar por vocês mesmos as experiências de algum grande químico, poderão fazê-lo simplesmente entrando em um laboratório e misturando a esmo as coisas que encontrarem ali? Se quiserem verificar alguns dos últimos experimentos da ciência química, vocês supõem que poderão fazê-lo por vocês mesmos, sem gastarem anos em trabalho e em estudo a fim de dominar esta ciência em que desejam desenvolver um experimento crucial? E o que vocês pensariam sobre o valor da crítica de alguma pessoa absolutamente ignorante em química, se ela dissesse que o experimento não poderia ser realizado, meramente porque ela mesma é incapaz de fazê-lo sem treinamento e sem conhecimento?
O Caminho para o Adeptado
Portanto eu lhes disse que explicaria o modo como se forma um Mahatma. Pois somente aqueles que desejam atingir esta meta podem obter uma demonstração irrefutável da existência daqueles que a atingiram. Este é o preço a ser pago. E sem isso ficamos então apenas com a probabilidade? Sim, uma probabilidade razoável; o testemunho de outras pessoas, que vocês aceitariam em um tribunal se se tratasse de qualquer outra disputa, como as envolvendo vastas somas de dinheiro, grandes propriedades ou qualquer outra coisa; este vocês podem ter simplesmente olhando para as evidências disponíveis, das quais estive apenas delineando um esboço. Mas demonstração pessoal? Para isso vocês devem começar vocês mesmos a se desenvolver na mesma linha em que ocorreu o desenvolvimento deles; e a fim de que qualquer um que o deseje possa começar a seguir esta linha, e seguí-la até seu fim natural, é que têm sido divulgados para o mundo os passos preliminares da Senda, os passos que são dados por aqueles que vêm a obter este conhecimento, os passos para que todos possam começar a andar, e pelos quais estas pessoas por sua vez possam adquirir uma certeza semelhante àquela que alguns de nós já possuem. Foram publicados especialmente dois pequenos livros, que delineiam os inícios da Senda; um chamado Luz no Caminho; o outro é aquele que citei antes, A Voz do Silêncio; e em acréscimo a eles há muitas sugestões espalhadas pela literatura Teosófica.
Como, então, os homens e mulheres comuns devem começar? Se eles desejam ter evidência por si mesmos sobre a possibilidade deste desenvolvimento, em cujo fim se formará um Homem Perfeito - o homem tornado Divino - os primeiros passos, os passos iniciais, são aqueles ensinados por todas as religiões - uma vida dedicada e altruísta, o desempenho do dever em quaisquer situações da vida em que aconteça de estarem o homem ou a mulher. Para usarmos a frase que está escrita em A Voz do Silêncio, "segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a raça e o grupo", esta é uma preliminar. Pois aqueles que querem obter conhecimento da Alma devem começar desta forma, que tem sido ensinada desde sempre como sendo o abandono dos maus caminhos e a entrada nos bons; a pureza de vida, o serviço aos homens, o esforço altruísta, continuamente repetido, para ser útil onde quer que a lei da natureza o colocar. O esforço de desempenhar integralmente todas as obrigações, o esforço de viver uma vida que deixe o mundo melhor do que está, o esforço de viver nobre, altruística e puramente - estas são as condições estabelecidas para aqueles que hão de encontrar a Senda.
Reencarnação
Deixem-me dizer aqui que a menos que a reencarnação seja uma verdade, então quase certamente este desenvolvimento se torna impossível. Não seria possível atravessar toda a longa Senda em uma única vida humana; nenhuma Alma recém-nascida poderia desenvolver estas qualidades divinas; a menos que seja verdade que a Alma do homem vem à Terra vida após vida, trazendo para cada nova vida as experiências das vidas anteriores, construindo um caráter cada vez mais elevado vida após vida, então de fato o Mahatma seria uma impossibilidade, e a perfeição do homem não passaria do sonho dos poetas. A reencarnação é tomada como fato garantido ao longo de todo este ensinamento, como sendo um fato fundamental da natureza, no qual deve depender a perfeição do indivíduo.
Viver Nobremente
Primeiro, então, a pessoa através de muitas vidas deve se dispor a viver bem, a viver utilmente, a viver nobremente, de modo que ela possa nascer a cada vez com qualidades mais elevadas, com faculdades cada vez mais nobres. A seguir, há um estágio nesta evolução humana, bem marcado e definido, onde a Alma, estando lutando há muito para ascender, se eleva um pouco além da evolução humana comum. Há homens e mulheres que são excepcionalmente altruístas, que demonstram capacidades excepcionais, intuições excepcionais, um amor excepcional pelas coisas espirituais, uma devoção excepcional pelo serviço à humanidade; quando estas qualidades excepcionais começam a se manifestar, então chega um momento em que um dos grandes Mestres pessoalmente toma pela mão este indivíduo a fim de guiar sua futura evolução e treinar a Alma em evolução. Os primeiros esforços devem ser feitos em concordância com as grandes forças espirituais que se distribuem pelo mundo. Mas quando estas foram utilizadas, quando homens e mulheres fizeram o seu máximo ao longo desta linha de crescimento espiritual genérico, então vem um estágio em que o Mestre se adianta para guiar a futura evolução, e são feitas certas exigências definidas para que esta evolução proceda.
Estas exigências estão descritas nos dois livros a que aludi. Resumindo em uma frase, ou antes, em duas, elas poderiam ser chamadas de "a percepção da não-separatividade", que logo explicarei, e "rígida autodisciplina". De um lado a não-separatividade, e de outro a autodisciplina. Então, não-separatividade é um termo técnico, que significa que você deve perceber que é fundamentalmente uno com tudo o que vive e respira, que você não se separa de nenhuma coisa viva, quer você não se separa nem do pecador nem do santo, nem do mais alto nem do mais vil dentre a humanidade. Antes, nem mesmo das formas mais baixas de seres, e nem das coisas ditas inanimadas, que você reconhece serem todas unas em essência, e unas com seu próprio Eu mais interior. Como isso se mostra? Se mostra pela tentativa deliberada e pelo treinamento de começar a se identificar com os sofrimentos, com os sentimentos, e com as carências do homem. Dizem-lhe: "Que tua alma incline o ouvido a todo grito de dor, assim como o lótus inclina sua corola para beber do sol matinal. Que o sol ardente não seque uma única lágrima de dor, antes que tu mesmo a tenhas secado do olho daquele que sofre".
Mas isso não é tudo. "Que cada lágrima humana caia a arder sobre teu coração e ali permaneça; não a tentes remover antes que a sua causa seja eliminada" [A Voz do Silêncio. As outras citações são do mesmo livro]. A primeira nota explica: vá até aquele que sofre e alivie sua dor; mas ao aliviar sua dor, deixe que ela aflija seu próprio coração, e que ali fique como um sofrimento constante até que a causa daquela dor seja removida. Este é o primeiro estágio da não-separatividade. Identificar-se com as tristezas e alegrias do mundo; que a dor de cada um seja a sua dor, que o sofrimento de cada um seja o seu sofrimento, e a alegria de cada um, a sua alegria. Seu coração deve vibrar com cada frêmito dos corações alheios, assim como a corda responde à nota musical em que foi afinada. Você deve sentir a dor, você deve sentir a agonia, você deve sentir o pecado e a vergonha como seu próprio pecado e vergonha, e torná-los parte de sua própria consciência, e suportá-los, e jamais tentar escapar deles. Você deve treinar a si mesmo em uma sensibilidade que responde a todo sofrimento da humanidade, e deve agir e sentir de acordo; pois dizem-nos novamente: "A inação em um ato de misericórdia se torna uma ação positiva em um pecado mortal".
Mas você deve não apenas perceber a dor do mundo e fazê-la sua, você deve ser tão rígido para consigo mesmo como é terno para com os outros em seu redor. Você não tem tempo para desperdiçar com seus próprios problemas, se os problemas do mundo hão de ser seus. Você não tem força para gastar se lamentando por sua própria dor, se há de se identificar com as dores da humanidade. E assim é dito que você deve ser tão duro como um caroço de manga para com suas próprias dores e sofrimentos, ao mesmo tempo em que é tão suave como sua polpa para com as dores e tristezas dos outros homens.
Fraternidade
E assim você deve ser treinado vida após vida, vida após vida se tornando cada vez mais identificado com tudo, e derrubando todos os muros que separam as pessoas. Este é o motivo de a fraternidade ser nossa única condição; porque o reconhecimento disso é o primeiro passo para esta percepção da não-separatividade, a qual é necessária para o progresso do discípulo. E o treinamento definido do discípulo é um treinamento que o torna sensível à dor de todos, a fim de que, sentindo, ele possa ser prestes em ajudar, e que o treina na auto-identificação com o todo, a fim de que finalmente ele possa se tornar um dos Salvadores do mundo. Pois à medida que este treinamento prossegue vida após vida, se desenvolve gradualmente em seu ser uma simpatia sempre crescente, uma compaixão cada vez mais profunda, uma caridade que nada pode empanar, uma tolerância que nada pode abalar. Nenhuma injúria pode ofender, pois a tristeza está naquele que faz a ofensa, e não naquele que recebe o ataque. Nenhuma raiva surge ante qualquer erro, pois você entende porque o erro foi cometido, e você se compadece de quem erra e não tem tempo para gastar com raiva. Você não aprovará o erro, você não dirá que o erro é certo, você não pretenderá que o bem é o mal, pois esta seria a maior crueldade e tornaria impossível o progresso da raça. Mas enquanto reconhece o mal, não terá raiva daquele que o pratica, pois ele é uno com a sua própria Alma, e você não reconhece separação entre você e ele.
Para que tudo isso? Porque à medida que o crescimento se processa, crescerão também a memória e o conhecimento; porque à medida que este crescimento se processa, a vida em evolução do Espírito dentro do discípulo se mostrará mais e mais nos caminhos dos homens, e gradualmente ele virá a ser conhecido como um trabalhador para a humanidade, um ajudante para a humanidade, um serviçal para a humanidade, trabalhando para iluminar a ignorância dela, para levar-lhe conhecimento, e para mostra-lhe a realidade que está por trás de todas as ilusões do mundo. E ele deve ser rigoroso consigo mesmo porque ele há de se colocar entre os homens e o mal, porque ele há de se postar entre seus irmãos mais fracos e as forças tenebrosas que de outra forma poderiam destruí-los.
Os exemplos que dei aqui sobre o que o discípulo deve ser ilustram o fato de que ele deve ser como uma estrela que dá luz para todos, mas não tira de ninguém; que ele há de ser como a neve que enfrenta em si mesma os ventos gélidos e impetuosos a fim de que as sementes abaixo possam dormir sem serem prejudicadas pelo frio e tenham a possibilidade de brotar quando chegar a estação propícia. Este é o treinamento a que estes Mestres Divinos exigem submissão; isso é o que eles pedem das pessoas que desejam ser discípulas. Não completude imediata, mas tentativa; não perfeição instantânea, mas esforço; certamente não a encarnação do ideal, mas a sua busca em meio a quaisquer falhas e quaisquer erros. E pergunto, se aqueles de nós que percebem isso como um ideal, e que sabem que estas são as exigências que nossos Mestres nos fazem, será provável que ajamos em prejuízo da sociedade, ou sejamos nada mais que servos dos homens em obediência àqueles cuja lei tentamos obedecer?
E então, como eu disse, vida após vida estas qualidades se desenvolvem, até que enfim chega um tempo em que as fraquezas humanas desaparecem, um tempo em que gradualmente as imperfeições da natureza humana são superadas; quando existirem uma compaixão que nada pode abalar, uma pureza que nada pode poluir, um conhecimento poderoso em seu escopo, e uma espiritualidade que faz sentir a si mesma - quando estas forem as qualidades, elas indicam um discípulo que está se aproximando do portal da libertação; até que alvorece o dia em que a Senda foi toda percorrida, o momento em que a carreira do discípulo encerra, e a derradeira possibilidade para o Homem Perfeito se descortina ante seus olhos. Então, por um breve momento, a Terra fica para trás, e ele - a Alma liberta, como é chamado, a Alma que agora possui sua liberdade, a Alma que venceu todas as limitações humanas - se encontra à beira do Nirvana, que é aquela consciência e felicidade perfeitas que estão além da capacidade do pensamento humano, que estão além das possibilidades de nossa consciência limitada. E quando ele se encontra ali, diz-se que há um silêncio; o silêncio na Natureza, um de seus filhos ascendeu acima dela, um silêncio que por um momento nada pode quebrar, quando a Alma liberada completou sua libertação. Silêncio - e então ele é rompido por uma voz; é uma voz que condensa em um grito imenso o todo da miséria do mundo que foi deixado para trás. Um grito do mundo em sua treva, em sua miséria, em sua penúria espiritual, em sua degradação moral. E naquele silêncio que cerca a Alma liberta, o grito que ele ouve é o grito da miséria da raça humana apelando à Alma que foi além de suas irmãs, apelando à Alma que está livre enquanto as outras ainda estão encadeadas.
O Senso de Unidade
Como ele poderia prosseguir? Vida após vida ele aprendeu a se identificar com os homens; vida após vida ele aprendeu a responder a todo grito de dor. Poderá prosseguir liberto, e deixar os outros encadeados? Poderá penetrar na felicidade e abandonar o mundo na tristeza? O Mahatma é aquela Alma liberta que tem o direito de ir adiante, mas que por Amor volta atrás, é aquele que traz seu conhecimento para ajudar o ignorante, traz sua pureza para limpar a impureza, traz sua luz para afastar as trevas, e novamente assume o peso da carne até que a raça humana se liberte com ele, e ele possa ir adiante não mais sozinho, mas como pai de uma imensa família, levando a humanidade consigo para compartilhar da meta de todos e da felicidade de todos no Nirvana.
Este é o Mahatma. Vida após vida de esforço coroadas por uma renúncia suprema; a perfeição obtida com luta e trabalho, e então trazida de volta para ajudar os outros até que todos estejam onde ele está. Sua mão está pronta para ajudar cada Alma que lhe estende a mão. Seu coração responde ao grito de todo irmão que pede orientação, e eles permanecem lá esperando até que desejemos ser ensinados, e nos dão a oportunidade que teve de ser assegurada com a renúncia ao Nirvana.
Um Ideal Sublime
Será este um ideal para zombarmos, para rirmos, para ridicularizarmos ociosamente? Se for apenas um sonho, é o mais nobre sonho que a humanidade jamais sonhou; é a perfeição do auto-sacrifício, e o mais inspirador dos ideais. Para alguns é um fato - um fato mais real que a vida. Mas para aqueles a quem não é um fato isso poderia ser um ideal, um ideal de auto-sacrifício, de conhecimento, e de amor. Que estes Homens existem, alguns de nós o sabem. Mas mesmo se vocês não acreditam neles, não há nada no ideal que não seja nobre, mas pensando que há vocês podem vir a não crescer mais e mais em direção à luz.
O Cristão tem o mesmo ideal em seu Cristo; o Budista tem o mesmo ideal em seu Buda. Toda fé tem o mesmo ideal no Homem que considera Divino. E testemunhamos para todas as religiões que sua fé é real e não falsa; seus Mestres são uma realidade, e não um sonho; pois o Mestre é a realização da promessa que existe no discípulo, é a concretização do ideal que adoramos. E assim, para alguns de nós estes Mestres Divinos, que sabemos viverem, são uma inspiração diária. Só podemos entrar em contato com eles à medida que nos purificarmos. Só podemos aprender mais à medida que praticarmos o que eles já ensinaram. E se de início falei em uma teoria, depois no passado histórico, depois no testemunho que temos no presente, e por fim nos passos que todos devem dar se assim quiserem, é porque quero livrar o ideal de todo o ridículo que tem se acumulado sobre ele, de toda a sujeira que se lhe tem lançado por cima, de toda a querela e disputa de que se encontram cercados.
Acusem-nos se quiserem, mas deixem intacto aquele nobre ideal de perfeição humana. Riam de nós à vontade, mas não zombem do Homem Perfeito, do homem tornado Deus, em quem, no fim das contas, a maioria de vocês acredita. Vocês que são Cristãos, não sejam falsos para com sua própria religião, deixando seu Cristo apenas no terreno da fé e não da realidade viva, como muitos de vocês sabem que ele está hoje em dia. E lembrem que qualquer que seja o nome, o ideal é o mesmo; qualquer que seja o título, o pensamento que subjaz é idêntico.
E assim como vocês pensarem hão de se desenvolver; suas vidas gradualmente tornarão a forma que tiver seu ideal. Pois há este poder transformador no pensamento: se seus ideais são mesquinhos, suas vidas serão mesquinhas; se seus ideais são materialistas, suas vidas serão materialistas. Tomem pois este ideal e pensem nele, e suas vidas serão penetradas por sua pureza; vocês se tornarão homens e mulheres melhores, porque ele se tornará habitual em seus pensamentos, e os pensamentos transformarão vocês à sua semelhança. È verdade que o homem se torna semelhante àquilo que venera; é verdade que as pessoas se tornam iguais àquilo em que pensam. E este ideal do Homem Perfeito guarda em si a esperança para o futuro da raça. Portanto, no dia de hoje, eu o invoco em favor de vocês, e lhes indico a Senda pela qual o ideal pode se tornar uma realidade viva, deixando de ser uma esperança para se tornar um Mestre vivo, e passando de um elevado ideal para aspiração ao Amigo e Mestre a quem todos podem dedicar suas vidas.
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OS ADEPTOS
Quem é o Mestre?
Dentre as muitas questões a que dá lugar a Teosofia, talvez nenhuma desperte mais interesse e suscite mais perguntas do que a que diz respeito aos Mestres. O que queremos dizer com este termo? Quem são eles? Onde eles vivem? O que fazem? Estas e muitas outras questões são constantemente ouvidas. Tentemos lançar alguma luz sobre elas, e respondê-las pelo menos em parte.
Mestre é o termo aplicado para indicar certos seres humanos que já completaram sua evolução humana, atingiram a perfeição humana, não têm mais nada a aprender a respeito de nossa parte do sistema solar, atingiram o que os Cristãos chama de "Salvação", e os Hindus e Budistas, de "Liberação". Onde a Igreja Cristã ainda preserva em sua plenitude "a fé antigamente confiada aos Santos", a salvação significa muito mais do que escapar da danação eterna. Significa a libertação da encarnação obrigatória, o estar a salvo de qualquer possibilidade de fracasso na evolução. "A quem triunfar" espera a promessa de se tornar "um pilar no templo de meu Deus, e de lá não mais sair". Aquele que triunfa é o "salvo".
A concepção da evolução, que implica uma gradual expansão da consciência, encarnada em formas materiais sempre melhores, subjaz à concepção de Maestria. A perfeição para a qual aponta há de ser atingida por todos os seres humanos, e claramente a perfeição não pode ser conseguida no decurso de uma única e breve vida humana. As diferenças entre as pessoas, entre o gênio e o idiota, entre o santo e o criminoso, entre o atleta e o aleijado, só são reconciliáveis com a justiça divina se cada ser humano estiver em um processo de crescimento desde a selvageria até a nobreza, e se as diferenças forem meramente o sinal dos diferentes estágios neste crescimento. No ápice de tão longa evolução está o "Mestre", encarnando em si mesmo os mais elevados resultados possíveis para o ser humano em seu desenvolvimento intelectual, moral e espiritual. Ele aprendeu todas as lições que a humanidade pode assimilar, e destilou o valor de toda a experiência que o mundo pode proporcionar. Além deste ponto a evolução se torna super-humana; se o vencedor voltar à vida humana será um ato voluntário, pois o renascimento não pode mais acorrentá-lo nem a morte tocá-lo, salvo com seu próprio consentimento.
Devemos acrescentar algo a esta concepção sobre a Maestria. O Mestre deve estar em um corpo humano, deve estar encarnado. Muitos que atingem este nível deixam de assumir corpos de carne, mas, usando apenas o "corpo espiritual", deixam o contato com esta Terra, e habitam apenas planos mais excelsos de existência. Além disso, um Mestre - como diz o nome - tem alunos, e em seu sentido estrito este termo só deve ser empregado para aqueles que desempenham a função especial de ajudar homens e mulheres a trilharem a árdua estrada que os leva "por um atalho" até o cume da evolução humana, muito antes da maioria de seus irmãos. A evolução tem sido comparada a uma estrada subindo em espiral em torno da encosta de uma montanha, e ao longo desta estrada a humanidade avança lentamente; porém existe um atalho até o topo do monte, um atalho reto, estreito, árduo e escarpado, e "são poucos os que o encontram". Estes poucos são os alunos, ou "discípulos" dos Mestres. Assim como nos dias de Cristo, eles devem "deixar tudo e seguí-Lo".
Aqueles que estão no nível de Mestre, mas que não tomam alunos, estão envolvidos em outras linhas de serviço pelo mundo, das quais algumas logo serão esclarecidas. Não há um termo em português para diferenciar ambos os tipos, e assim, por força maior, a palavra "Mestre" é aplicada para todos. Na Índia, onde estas diferentes atribuições são conhecidas desde remota antigüidade, há diferentes nomes para as diferentes funções, mas seria difícil popularizá-los em português.
Podemos estabelecer, pois, como definição de um Mestre: um ser humano que aperfeiçoou a si mesmo e já não tem nada mais a aprender sobre a Terra, que vive em um corpo físico sobre a Terra para ajudar os homens, que assume discípulos que desejam se desenvolver mais rapidamente a fim de servir e estão dispostos a abandonar tudo para este propósito.
O Homem Perfeito: Seu Lugar na Evolução
Pode talvez ser necessário acrescentar, para informação daqueles que não estão familiarizados com a concepção Teosófica da evolução, que quando dizemos "um Homem Perfeito" queremos dizer muito mais do que geralmente se atribui ao termo. Queremos dizer uma consciência que é capaz de funcionar ininterruptamente através das cinco grandes esferas em que ocorre a evolução: os mundos físico, intermédio e celeste, aos quais todas as pessoas estão ligadas, e, além destes, os dois céus superiores - São Paulo, podemos lembrar, falou do "terceiro céu" - onde a humanidade em geral ainda não pode penetrar. A consciência de um Mestre está à vontade em todos estes mundos e inclui a todos, e seus corpos sutis e refinados funcionam livremente em todos, de modo que a qualquer tempo conhecem e atuam à vontade em qualquer parte de qualquer um deles.
O grau ocupado pelos Mestres na grande Fraternidade é o quinto, cujos membros ultrapassaram a evolução normal. Os quatro graus abaixo consistem de discípulos iniciados, que vivem e trabalham em sua maior parte desconhecidos no mundo cotidiano, fazendo o trabalho que seus superiores lhes consignam. Em certas épocas da história humana, nas crises graves, nas transições de um tipo de civilização para outro, vêm ao mundo alguns membros da Hierarquia Oculta, Mestres e mesmo Seres ainda mais exaltados; embora encarnados, normalmente eles permanecem em locais isolados e afastados, longe do tumulto da vida humana, a fim de levar a cabo o trabalho auxiliador que seria impossível de realizar em locais apinhados de pessoas.
Onde Eles Vivem?
[Um relato mais completo é dado no livro The Masters and the Path (Os Mestres e a Senda), de C. W. Leadbeater]
Eles vivem em diferentes países, espalhados por todo o mundo. O Mestre Jesus vive principalmente nas montanhas do Líbano; o Mestre Hilarion vive no Egito, usa um corpo cretense; os Mestres M. e K.H. vivem no Tibete, perto de Shigatse, ambos usando corpos indianos; o Mestre Rakoczi, na Hungria, embora viaje muito; não sei dos lugares de residência do "Veneziano" e do Mestre "Serápis". Locais de residência do corpo físico não significam muito quando os ágeis movimentos do corpo sutil, liberto do corpo denso, levam seu possuidor para qualquer parte que ele quiser a qualquer momento. "Lugar" perde sua significância ordinária para aqueles que são cidadãos livres do espaço, indo e vindo à vontade. E embora se saiba que eles têm lugares de moradia, onde usualmente reside o corpo físico, este corpo não é mais que uma roupagem, a ser prontamente posta de lado a qualquer momento, e assim o "onde" em grande parte perde seu interesse.
Sua Obra
Eles ajudam, de inumeráveis formas, o progresso da humanidade. Da esfera mais alta eles lançam luz e vida para o mundo todo, para que possam ser recebidas e assimiladas, tão livremente como a luz do sol, por todos que são receptivos o bastante para fazê-lo. Assim como o mundo físico vive por causa da vida de Deus, focalizada pelo sol, igualmente o mundo espiritual vive pela mesma vida, focalizada pela Hierarquia Oculta. A seguir, os Mestres especialmente relacionados com as religiões as usam como reservatórios em que eles derramam energia espiritual, a ser distribuída ao fiel de cada religião através dos "instrumentos de graça" devidamente prescritos. Em seguida vem o grande trabalho intelectual, onde os Mestres emitem formas-pensamento de elevado poder intelectual que são captadas, assimiladas e distribuídas ao mundo por homens de gênio; também neste nível eles comunicam sua vontade aos seus discípulos, notificando-os das tarefas que eles devem desenvolver.
Depois vem o trabalho no mundo mental inferior, a geração de formas-pensamento que influenciam a mente concreta e a guiam ao longo de úteis linhas de atividade neste mundo, e o ensino daqueles que vivem no mundo celeste. Após, há as vastas atividades do mundo intermédio, a ajuda aos assim chamados mortos, a direção e supervisão gerais do ensino dado aos discípulos mais novos, e o envio de ajuda a inumeráveis casos de necessidade. No mundo físico há a observação das tendências dos eventos, a correção e neutralização, até onde a lei permite, das correntes malignas, o constante equilíbrio das forças que trabalham em prol e contra a evolução, o fortalecimento do bem, o enfraquecimento do mal. Trabalham também em colaboração com os Anjos das Nações, guiando as forças espirituais assim como os outros guiam as materiais, escolhendo e rejeitando os atores do grande Drama, e suprindo impulsos na direção correta que forem necessários.
Estas são apenas algumas das atividades incessantemente desempenhadas em todas as esferas pelos Guardiães da humanidade, algumas das que estão dentro de nossa visão limitada. Eles são como que um Muro Protetor em torno da humanidade, dentro do qual ela pode progredir, defendida contra as tremendas forças cósmicas que atuam em torno de nosso lar planetário. De tempos em tempos um deles aparece publicamente no mundo dos homens como um grande instrutor religioso, para realizar a tarefa de disseminar uma nova forma das Verdades Eternas, uma forma adequada a uma nova civilização. Suas fileiras incluem todos os maiores Profetas das Fés do mundo, e enquanto viver uma religião qualquer, à sua testa estará um destes Grandes, velando especialmente por ela.

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